Economia

Bancos de investimento superam cenário volátil

O ambiente de forte volatilidade no mercado brasileiro provocado pelas eleições presidenciais e o aumento da cautela em relação à economia local não impediu que as receitas dos bancos de investimento crescessem no terceiro trimestre. A expansão se deu em um cenário onde essas instituições enfrentaram maior concorrência com atuação marcante dos grandes bancos de varejo, o que pesou para alguns players, a exemplo do BTG Pactual.

A ausência de emissores na área de renda variável, na qual nenhuma oferta foi registrada no terceiro trimestre, e uma brusca freada nas operações de dívida de longo prazo fizeram com que o segmento de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) apresentasse maior atividade. Mesmo assim as eleições tiveram impacto nos negócios, com muitas transações sendo postergadas. Dados da consultoria Transactional Track Record (TRR) mostram que o mercado brasileiro foi palco de 251 transações no terceiro trimestre do ano, 9% a mais do que o registrado no mesmo intervalo do ano anterior. Em valores, as operações no período somaram R$ 57,7 bilhões, crescimento de 90% na mesma comparação.

O executivo de um banco estrangeiro conta ainda que a maior concorrência entre os bancos no Brasil provocou tal aperto nos fees que o obrigou a ficar fora de algumas operações. De acordo com ele, os bancos de investimento com sede fora do Brasil tiveram, de modo geral, dificuldade de justificar o trabalho na matriz mediante um pagamento muito baixo. “Muitas vezes ficamos de fora. A competição cresceu muito e muitas vezes a matriz não entende porque entrar em uma determinada operação”, afirmou ele, lembrando que a maior competição é uma realidade que marca o mercado já há algum tempo, mas que a escassez de operações traz esse efeito à tona.

Do lado dos bancos de varejo que atuam com operações de mercado de capitais, porém, as receitas cresceram. O Bradesco BBI, braço de investimentos do banco, apresentou receitas 95,7% maiores no terceiro trimestre deste ano, para R$ 135 milhões, ante mesmo intervalo de 2013, de R$ 69 milhões. De janeiro a setembro, as receitas do Bradesco com underwriting/assessoria financeira totalizaram R$ 516 milhões, avanço de 24,3% em relação ao mesmo período do ano passado, de R$ 415 milhões.

“O trimestre mostrou concentração de atividade em renda fixa e M&A, como tem sido a tendência desde o início do ano. Acreditamos que isso se mantenha até dezembro, com algumas transações relevantes de M&A ainda por vir”, destacou Renato Ejnisman, diretor gerente do Bradesco BBI, em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.

Para Ivan Monteiro, vice-presidente de Gestão Financeira e de Relações com Investidores do Banco do Brasil, o ano de 2014 está sendo “desafiador” na área de mercado de capitais. Apesar disso, as receitas do banco de investimento da instituição voltaram a crescer após declinarem mais de 27% no segundo trimestre ante um ano. Esses ganhos somaram R$ 124,6 milhões de julho a setembro, cifra 16,0% maior que a vista no mesmo período de 2013. No acumulado dos nove primeiros meses, o sinal, porém, é inverso. As receita do BB com banco de investimento foram até agora 13,0% menores, totalizando R$ 352,5 milhões.

As receitas do BTG Pactual também estão em queda em 2014. O banco de investimento de André Esteves faturou R$ 410 milhões de janeiro a setembro, montante 6% inferior ao visto no mesmo período do ano passado. No terceiro trimestre, as receitas da área que engloba M&A, ações e dívida recuaram 11% em um ano e 41% ante o segundo. “O ano de 2015 deve ser parecido com 2014, com atividade econômica mais fraca, principalmente no Brasil, mercados emergentes sofrendo um pouco com volatilidade e incertezas, em consequência do cenário econômico indefinido na Europa”, avaliou João Dantas, diretor de Relações com Investidores do BTG Pactual, em entrevista ao Broadcast.

Mas se o terceiro trimestre já foi difícil para as originações de renda fixa e variável, os últimos três meses do ano caminham para ser ainda mais parados. Na opinião de profissionais do mercado, faltando poucos meses do fechamento de 2014 e com o cenário externo dando frequentes sinais de indefinição, tanto em relação à Europa quanto à uma mudança de direção no juro norte-americano, será difícil que as empresas se arrisquem a tomar dinheiro por enquanto. Diante de vencimentos ou necessidades urgentes, as empresas optarão por instrumentos de dívida mais curto, por exemplo, rolando notas promissórias. As emissões desses papéis cresceram 37% ao final de outubro ante um ano, para R$ 12,5 bilhões, de acordo com a Cetip.

Levando-se e conta as emissões de debêntures no terceiro trimestre, o volume chegou a R$ 17 bilhões, um dos mais baixos dos últimos sete anos, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima). Somado a um intervalo enfraquecido para as emissões de renda fixa, o trimestre foi marcado pela presença de um número maior de bancos na coordenação das operações, com consequente partilha dos fees, para viabilizar as transações e garantir que fossem distribuídas num cenário de instabilidade dos mercados.

O mesmo cenário é esperado para renda variável. Embora quatro empresas estejam com o pedido de oferta na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a percepção de especialistas é de que a janela não se abra para emissão de ações em dezembro. Além da cautela em relação à economia brasileira, a ausência, até aqui, do nome que irá substituir Guido Mantega no Ministério da Fazenda já interfere na tomada de decisão dos emissores. Se confirmado, o quarto trimestre terá, assim, uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), da Ourofino, que ocorreu em outubro. Dessa oferta foram coordenadores o JPMorgan (líder), Itaú BBA, Bradesco BBI e o BB-Banco de Investimentos.

Para 2015, a expectativa de um exercício sem grandes volumes em renda variável, mas com algumas empresas prontas para abrir capital podendo ingressar na bolsa ao longo do ano. O quadro em renda fixa, segundo executivos do mercado, não deve sofrer alterações nos primeiros meses, salvo operações que podem ser engatilhadas no mercado externo, por conta da grande janela que se abre já em janeiro, quando os gestores fazem as alocações para o ano.

“O mercado não tem mais janelas, tem frestas. Não temos nenhuma necessidade de fazer novas emissões, mas estamos sempre olhando e buscando diversificação. Há um movimento importante na Ásia. Está no momento de voltarmos lá e pensarmos em moedas e investidores”, avaliou Monteiro, do BB, em conversa com a imprensa, na semana passada.

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