Na direção certa. É assim que os presidentes dos principais bancos privados do Brasil veem a política econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) até aqui, capitaneada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O andamento do arcabouço fiscal e da reforma tributária ajudaram a criar um cenário otimista que, afirmam, vai destravar a economia. Mas há discordâncias: os bancos são contrários a mudanças que o governo cogita propor na segunda etapa da reforma tributária, que atingirá os impostos sobre a renda.
"É natural, do ponto de vista dos juros, que neste segundo semestre a atividade arrefeça um pouco, mas todo o trabalho que vem sendo pelo ministro da Fazenda, pela equipe econômica e pelo próprio Banco Central (BC), está na direção absolutamente correta", disse o presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy, em coletiva de imprensa para comentar os resultados do banco no segundo trimestre, divulgados na segunda-feira.
De acordo com ele, o BC fez o certo ao começar a aumentar os juros em 2021, enquanto outras autoridades monetárias do mundo relutavam em apertar os cintos. Isso permitiu que a Selic também começasse a cair agora – e o trabalho de Haddad ajudou. "As condições foram criadas pelo trabalho conjunto que foi feito, Ministério da Fazenda, Banco Central, todos olhando para o longo prazo."
Visão parecida foi manifestada pelo presidente do Santander Brasil, Mario Leão. O balanço do banco foi divulgado no mesmo dia em que a agência de classificação de risco Fitch elevou a nota de crédito do País, citando a consolidação da agenda fiscal entre os motivos.
"A elevação mostra o País Na direção certa, faz parte da lição de casa. Eu não estava na turma dos pessimistas no começo do ano, não estou surpreso com a boa vontade maior da Faria Lima com o governo, o Haddad se consolidando, tudo isso eu de verdade visualizava", disse ele a jornalistas. "Claro que tem que continuar entregando, como em tudo. A direção parece boa."
A temporada de balanços do segundo trimestre foi "atravessada" pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de cortar os juros básicos da economia brasileira em 0,5 ponto porcentual, para 13,25%. Na visão dos bancos, o afrouxamento monetário é parte de um ambiente mais positivo para os negócios.
Nas coletivas e teleconferências de resultado, os bancos afirmaram que a demanda por crédito começa a voltar, em especial entre grandes e médias empresas. Os dois segmentos ficaram distantes do mercado financeiro no primeiro trimestre diante dos efeitos da Selic sobre a atividade econômica, e também após o baque da recuperação judicial da Americanas sobre o mercado.
"O segundo semestre tem bons sinalizadores, tem boas notícias", afirmou o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior. "A própria redução dos juros pelo Banco Central traz um novo ânimo, a expectativa dos agentes econômicos melhora, e já percebemos no mês de julho uma nova disposição das empresas em tomar crédito."
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De acordo com ele, há inclusive operações de mercado de capitais prontas para sair. Para os bancos, essa é uma boa notícia: no primeiro semestre, as receitas dos bancos de investimento caíram diante da paradeira das emissões, em especial as de renda variável, que pagam comissões mais robustas.
"O que imaginamos nesse segundo semestre é um início de atividade mais forte no mercado de capitais, que andou bastante de lado no primeiro semestre", disse Maluhy, do Itaú. A fraca atividade de mercado fez com que o banco tivesse quedas nas receitas com assessoria financeira e com administração de fundos, e levou a uma redução na estimativa de alta das receitas com serviços neste ano, da faixa de 7,5% a 10,5% para a faixa entre 5% e 7%.
Os bancos, porém, são contrários à ideia do governo de extinguir os juros sobre capital próprio (JCP). O mecanismo permite a distribuição de resultados pelas empresas com dedução do valor da base de cálculo do imposto de renda devido. Existente desde 1995, o JCP substituiu a dedução fiscal da correção monetária após o Plano Real, que controlou a inflação do País.
Empresas de todos os setores pagam JCP. Os bancos argumentam que, para as financeiras, o peso é grande, porque as instituições são obrigadas a manter reservas de capital pelo regulador, o BC. Por isso, o JCP serviria para compensar assimetrias tributárias.
"O fim do JCP sem uma equação seria movimento ruim, porque seria taxar mais a indústria", disse Leão, do Santander. "O JCP não é planejamento tributário, é pelo capital que temos de reter por questões regulatórias", afirmou Maluhy, do Itaú. Segundo os bancos, o movimento aumentaria o custo do crédito.
Em comum, porém, os três maiores bancos privados do País disseram acreditar em uma saída negociada com o governo. "A interlocução com o governo tem sido bastante positiva", disse Lazari, do Bradesco.