Os bancos têm interesse no leilão da folha de pagamento do funcionalismo público federal, mas querem um modelo diferente do que vem sendo pensado pela União. Desde que o Estado antecipou a decisão do governo federal de vender a folha de pagamento como estratégia para aumentar a arrecadação, os bancos têm tratado o tema com discrição, mas avaliam, nos bastidores, como influenciar na definição do modelo de licitação.
A reportagem procurou as maiores instituições financeiras, que confirmaram o interesse em administrar a folha dos servidores federais, mas ponderaram que o momento econômico atual e as mudanças na legislação que facilitaram a portabilidade das contas causam impacto no modelo do negócio. Executivos dos bancos só aceitaram falar sem que fossem identificados para não explicitar as estratégias de cada instituição.
Os bancos querem que o governo adote um sistema semelhante ao das Forças Armadas, pelo qual remuneram mensalmente por cada cliente que mantiveram, de fato, a conta no banco, em vez de pagar antecipadamente pela gestão da folha. Nesse modelo, uma instituição financeira não recebe sozinha a administração de todas as contas. Cada um dos bancos remunera as Forças Armadas por mês pela fidelidade de cada um dos clientes (R$ 15) que manteve a conta. O modelo amplia a competição bancária e respeita a liberdade de escolha do servidor.
Além disso, segundo um executivo, os bancos evitam desembolsar de uma vez só um valor elevado pelo direito de gerenciar as contas sem a garantia de que os clientes continuarão fiéis, pelo prazo do contrato, à instituição. Já o governo tem interesse em vender esse ativo para ampliar as receitas e ajudar no cumprimento da meta fiscal – estipulada em 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015.
A equipe econômica quer vender a folha dos servidores do Executivo em lotes de funcionários, como foi feito pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que movimenta 24 milhões de benefícios – cerca de R$ 12 bilhões mensais. A licitação que está sendo preparada pelo governo, e deve sair ainda este ano, envolve a venda do direito de os bancos administrarem o pagamento dos salários de 500 mil servidores do Executivo – a operação movimenta cerca de R$ 20 bilhões por mês.
Atualmente, os servidores podem escolher em qual banco querem receber, mas as instituições financeiras não pagam nada ao governo por ter a conta desses servidores. Os bancos privados afirmam que o modelo de negócios tem de levar em conta, além da portabilidade, a rede de agências que os concorrentes públicos possuem nos órgãos. “É pagar uma bolada para dormir com o inimigo”, resumiu um dirigente.
Já os públicos afirmam que detêm a maior parte dessas contas e, por isso, não estariam dispostos a desembolsar volume elevado para manter os correntistas. Enfim, os maiores bancos do País acham precipitada e elevada qualquer estimativa do valor do negócio antes que a modelagem esteja debatida.
Por outro lado, fontes do governo afirmam que, mesmo com a portabilidade, o negócio continua muito atrativo, principalmente no cenário atual, de menor demanda por crédito. Além disso, a inadimplência de empréstimos com desconto em folha para servidores públicos é a menor do mercado.