“Tudo o que você fizer na sua carreira inteira está no seu primeiro filme.” Tom Barman, vocalista da banda belga dEUS cita a frase dita pelo cineasta francês François Truffaut para explicar que, na música, a criação também é a mesma. “Um disco é a mesma coisa.”
Barman e grupo, cujo nome foi inspirado numa canção da banda Sugarcubes, estão de volta ao Brasil depois de 19 anos. Nesta quinta-feira, 23, eles estreiam, em São Paulo, com show na Choperia do Sesc Pompeia. Nesta sexta, 24, o grupo será atração do festival Abril Pro Rock, no Recife, ao lado de Pitty, Far From Alaska, Pato Fu, Kalouv, Boogarins e The Shiva.
No ano passado, o dEUS completou 20 anos de existência, marcado pelo lançamento do disco Worst Case Scenario (1994). Para comemorar, Barman e companhia reuniram os maiores sucessos do grupo na coletânea Selected Songs 1994 -2014. A ideia, garante o vocalista, era simples: encontrar um novo público que talvez nunca tenha ouvido falar da banda nascida na Antuérpia e teve o auge comercial em meados dos anos 1990. “Descobri muitos artistas por coletâneas”, diz Barman. “The Cars, Tom Petty, por exemplo.” Mas há um segundo motivo, nas entrelinhas, que mostra o lado divertido e perverso de Barman. As canções, espalhadas em ordem não cronológica, comprovam a teoria de Truffaut da qual ele se apoderou – e faz bom uso.
“Se elas seguissem uma ordem de lançamento, seria previsível demais. Não gosto disso”, explica ainda o vocalista de 43 anos. “Mas, na verdade, eu sou teimoso. Queria provar que algumas músicas nossas fariam sentido colocadas ao lado de canções mais antigas. Elas têm pontos em comum, entende?”
Da primeira passagem do dEUS pela capital de Pernambuco, no mesmo festival, no ano de 1996, restou apenas Barman e Klaas Janzoons (teclado e violino). O grupo estava prestes a lançar o segundo disco da carreira, In a Bar, Under the Sea, sucessor do bem-sucedido Worst Case Scenario (1994) e o grande desafio do líder era manter o então quarteto unido como banda. A pressão interna, contudo, chegou ao limite nos anos 2000, quando cada integrante seguiu seu caminho.
“Lembro que foi uma ótima fase da minha vida. As pessoas nos diziam que éramos loucos por dar um tempo assim, diziam que estaríamos acabados. Mas, f…, não gosto dessa ideia preconcebida do que uma banda deve fazer.” De líder do dEUS, Barman se aventurou pela música eletrônica, com o projeto Magnus, e pelo cinema, ao escrever e dirigir o filme Any Way the Wind Blows (2003).
O grupo retornou às atividades com o álbum Pocket Revolution, lançado em 2005, e uma nova formação. O dEUS nasceu despretensioso, embora o nome pareça dizer o contrário, acabou se tornando famoso por ser a primeira banda indie da Bélgica a assinar com um grande selo, a Island Records. Pela época, anos 1990, foi logo etiquetada como grunge. Pelo experimentalismo, foi chamada de vanguarda. “Talvez, fosse possível ouvir grunge ali”, diz Tom Barman. “Estamos sempre mudando, o que pode ser a vanguarda. Mas está tudo ali no nosso primeiro disco”, acrescenta ele. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.