Variedades

Banda Bula lança disco e faz show em São Paulo

O ensaio estava prestes a começar, quando Marcão resolveu pegar o violão e lançar alguns acordes de maneira despretensiosa. Chorão ouviu e gostou da batida. “Faz isso de novo, irmão”, disse ele. O então vocalista do Charlie Brown Jr. agarrou uma caneta e um bloquinho e começou a rascunhar algo ali mesmo, no canto do estúdio. Champignon também se empolgou. Tanto que, no outro dia, retornou ao local ainda pela manhã para gravar o baixo da música. Surgia ali Ela Nasceu pra Mim, uma das primeiras composições que fariam parte do primeiro CD da banda Bula. A letra, possivelmente, foi a última escrita por Chorão. “A canção estaria no próximo trabalho do Charlie Brown Jr. e, infelizmente, não deu tempo. Depois, quando ouvi o vocal do Chorão e o baixo do Champignon, achei que os fãs mereciam ouvir aquilo. Seria muito egoísmo guardar aquela canção na gaveta. É uma bela homenagem a esses dois caras que fizeram parte da minha vida”, afirma Marcão.

Com os cabelos mais longos que os da época do Charlie Brown Jr., Marcão assumiu os vocais de um novo power trio do rock nacional. Ao lado de Lena Papini (baixo) e Pinguim (bateria), viu a banda surgir de maneira natural. Os três são amigos há muito tempo e se conheciam da cena musical de Santos.
Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o grupo, que acaba de lançar o álbum Não Estamos Sozinhos e faz show de lançamento do novo trabalho nesta sexta-feira, 6, em São Paulo, diz que não quer que o trabalho seja confundido com um tributo ao Charlie Brown Jr., como foi A Banca. “Respeitamos muito a história do Charlie Brown. Eles foram fundamentais para o rock brasileiro, mas trata-se de um álbum novo, com 15 faixas inéditas. São as composições do Marcão, ainda que as influências do Charlie Brown Jr. sejam nítidas ali”, crava a baixista Lena.

Quase dois anos depois da morte de Chorão e Champignon, Marcão ainda não aprendeu a lidar com a perda dos dois amigos e ex-companheiros de banda.
Chorão foi encontrado morto em seu apartamento em março de 2013. Poucos meses depois, em setembro, Champignon teve o mesmo destino. “Até agora não consigo acreditar que eles se foram. Ainda não caiu a ficha. É difícil porque nós tínhamos uma relação muito pessoal. Eram pessoas próximas. Eles escreveram a história recente do rock e serão eternamente lembrados”, lamenta Marcão. “Estamos seguindo a vida e deixando a dor num lugar onde ela machuque o menos possível”, complementa Lena.

Duas Caras, que abre o disco, também conta com a participação de Champignon no baixo. Os primeiros acordes da música logo deixam isso claro. A pegada do músico e seu jeito inconfundível de tocar podem ser reconhecidos a quilômetros de distância. “É um privilégio ter o Champignon tocando baixo no nosso primeiro disco. Soa como agradecimento por tudo que ele fez por mim”, conclui Lena.

No início de 2014, quando as feridas mal tinham sido cicatrizadas, Marcão resolveu expor seus sentimentos onde mais se sentia confortável: na música.
Com exceção de Ela Nasceu Para Mim, composição de Chorão, todas as outras
faixas do disco foram escritas por ele. “Não existe uma temática central.
Essas músicas têm uma lado introspectivo, de experiências que eu vivenciei nos últimos anos. As letras, em sua maioria, são sérias e reflexivas. Há muita verdade naquilo. Nunca tive a intenção de cantar, mas foi uma coisa natural. Até porque as letras falam sobre coisas minhas”, diz ainda.

Não Estamos Sozinhos é um registro autobiográfico. Os riffs vigorosos de guitarra lembram o bom e velho Charlie Brown Jr. “Não tem como ignorar isso. Eu fui o guitarrista da banda por mais de 20 anos. Tínhamos uma relação forte. Aliás, eu nem quero que isso seja esquecido. O Charlie Brown Jr. marcou minha vida e um período importante do rock nacional, mas o Bula é outra coisa. Há muita verdade. Não montamos esse projeto para preencher nenhuma lacuna”, ressalta Marcão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Posso ajudar?