Eles eram os estranhos num ninho pop. Em uma noite encabeçada por Bruno Mars, no Rock in Rio Las Vegas, realizado em maio deste ano, a esquisitice do Empire of The Sun foi colocada à prova. Como fazer as pessoas presentes para assistir também a John Legend, Big Sean, Joss Stone e Magic! curtirem o experimentalismo dançante de uma trupe de australianos amalucados e veneradores do Sol? “É uma grande aposta, na verdade”, explica Luke Steele, vocalista da banda e aquele que surge com um cocar aborígine em grande parte dos videoclipes da banda. “Sabe, nesses festivais, os produtores tentam encaixar as bandas como um quebra-cabeça. Quero dizer, somos uma banda pop? Na verdade, não. Afinal, não tocamos em rádio, ou coisa assim. Fazemos uma música que pode ser popular. Mas nossa composição é diferente.”
Steele e seu Empire of The Sun voltam a São Paulo cinco anos depois da primeira passagem por essas terras, como parte da programação do festival indie Planeta Terra. Desta vez, o músico australiano, agora morador de Santa Mônica, no Estado norte-americano da Califórnia, terá a chance de se provar como dono do show. Na primeira turnê solo pelo País, o grupo passou pelo Rio no domingo, 8, e sobe no palco do Espaço das Américas, na capital paulista nesta terça-feira, 10, às 22 horas.
“O que eu mais lembro dessa primeira passagem é que foi uma das viagens de avião mais longas da minha vida”, diverte-se. “Saímos da Austrália para o Brasil. Uau. Parece que durou uma eternidade. Agora, serão voos mais curtos até aí.”
A banda, inicialmente, era uma dupla, formada por Steele e Nick Littlemore. Ambos músicos importantes da cena alternativa australiana, vindouros dos projetos The Sleepy Jackson (Steele) e Pneu (Littlemore). Littlemore, contudo, não está mais em turnê com o grupo, embora continue como integrante e já revelou que as gravações do novo disco já começaram. “Sou o único integrante do Empire of the Sun a voltar ao Brasil. Então, temos muitas novidades para mostrar.” Steele vem acompanhado de Ian Ball (guitarra) e Olly Peacock (bateria) e “um punhado de dançarinas norte-americanas”, diz.
A primeira passagem pelo Brasil não foi tão traumática, esteticamente dizendo, quanto aquela performance no Rock in Rio. O festival, todo voltado à música indie, se curvava às vertentes mais dançantes do gênero, em alta nos anos anteriores. Indie pop, indie dance, indie farofa, encaixava-se tudo o que soasse bom em um clube, bom de dançar e se deixar levar. Tocaram, veja só, bandas como Yeasayer, Phoenix, Passion Pit, Of Montreal, Mika, Hot Chip, Girl Talk e a brasileira Holger.
Mesmo assim, Empire of the Sun se diferenciava por transpor as barreiras entre o normal e o esquisito. Não são poucas as vezes, durante a apresentação do grupo, enfeitada por jatos de luz coloridos e vestuário espalhafatoso, como aborígines de um futuro distópico, que o ouvinte pode se perder entre tanta piração. E é difícil voltar ao estágio anterior.
A loucura musical de Steele e companhia é de antes da neopsicodelia liderada pelos roqueiros também australianos do Tame Impala. Era um flerte do pop com os loopings viajantes ao som de sintetizadores antigos, antes da chegada das guitarras ao estilo. Não é para iniciantes, contudo. Loucuras visuais e sonoras que dependem de concentração e foco para serem seguidas. Ou o bonde passa – e fica o bode.
Tinham apenas um disco em 2010, o chamado Walking on a Dream, lançado um ano antes. Mais palatável, com hits mais radiofônicos, como Standing On The Shore, Walking on a Dream e We Are The People. Ali, já embarcavam nessa ideia de “Júlio Verne da música”, de prever o futuro, assim como o escritor francês, mas com canções em vez de livros. Havia pretensão, mas também bom gosto. Não chegou ao topo das paradas, mas recebeu boas críticas e prêmios na sua terra natal. Mais importante, o disco de estreia fez o nome da banda circular.
Ice on the Dune, lançado em 2013, é mais experimental, numa viagem mais aprofundada a esse universo futurístico. Alive, terceira canção do álbum, foi a única capaz de ultrapassar as barreiras do indie e cair nas pistas de dança mais populares. Tem refrão radiofônico, no qual é possível ouvir perfeitamente a voz de Steele, e seu verso de carpe diem: “Amando cada minuto porque me faz me sentir vivo. Tão vivo”, canta ele.
A ficção científica também é escancarada nos videoclipes e artes de capa dos dois álbuns, como se Steele nos preparasse para o que vem pela frente. Um aviso justo, aliás. Fã de ficção desde jovem, ele acredita que foi o cinema que o fez embarcar em uma viagem ao futuro, musical e esteticamente. “É algo que acontece quando você é criança”, explica. “É como ir a um parque de diversões, como no Universal Studios, e entrar dentro daquela realidade do filme.
Você se apaixona por ela. Ou quando se vai ao cinema e se apaixona por aqueles personagens, entra naquela viagem.” Um terceiro disco está 80% gravado, diz o líder da banda, e algumas músicas devem ser mostradas em São Paulo, e a brincadeira de prever o futuro parece ser deixada de lado. “Queremos soar mais setentistas”, diz. “Estamos mais velhos, sabe?”
EMPIRE OF THE SUN EM SP
Espaço das Américas. Rua Tagipuru, 795, Barra Funda.
Tel.: 3864-5566. 3ª (10), às 22h.
R$ 200 a R$ 360.