Em uma entrevista para o site da revista norte-americana Time, em 2009, Dave Grohl, líder do Foo Fighters, foi questionado por um fã sobre qual banda nova gostava de ouvir. Ele respondeu sem hesitar: “Deerhoof, eles são ótimos”. O grupo em questão não era assim tão novo. Fundada em 1994, a banda já estava na estrada há 15 anos quando foi citada pelo ex-baterista do Nirvana, e havia lançado impressionantes dez álbuns. “Eles vão deixar você maluco, mesmo que nunca vão ser uma Lady Gaga, tomar o mundo de assalto ou coisa assim.”
O que Grohl diz pode parecer pejorativo, mas não é. O Deerhoof integra o time de bandas de música alternativa cujo discurso “o sucesso não é tão importante assim” de fato se faz valer. Cada um dos álbuns da trupe atualmente formada por Greg Saunier (bateria e vocais), Satomi Matsuzaki (vocais e baixo), John Dieterich (guitarra) e Ed Rodríguez (também guitarra) é um tiro para uma direção pela qual não se espera.
A banda está no Brasil pela primeira vez. Já se apresentou na primeira edição do festival recifense Coquetel Molotov que, em sua primeira edição, aconteceu em Belo Horizonte, no dia 15 de outubro. Nesta quinta-feira, 20, eles se apresentam no Sesc Pompeia, em um show casado que tem a abertura da divertida banda espanhola de garage rock Los Nastys. A última data da turnê brasileira, que foi realizada com o auxílio do consulado norte-americano, é na versão do Coquetel Molotov no Recife, no sábado, 22.
“Muito dessa variedade sonora que você ouve nos nossos discos tem a ver com os nossos gostos diferentes. Cada um da banda curte um tipo de som bastante distinto do outro”, explica John Dieterich, do hotel onde a banda está hospedada, já em São Paulo. O exemplo do guitarrista está no baterista Greg Saunier, um disparadamente fã do som dos Rolling Stones. “E isso não é algo que ele a gente divida com ele. Eu, Satomi e Ed gostamos de outras coisas”, explica.
The Magic é o mais recente trabalho da banda, lançado em junho deste ano – e foi o segundo disco deles em 2016, antes veio o experimental Balter/Saunier, em abril. “Acho que o título já indica um pouco o que pretendemos com esse disco. Gostamos de brincar nessas canções como se elas não pudessem ser controladas, como mágica”, explica Dieterich. “E mágica é isso, não pode ser enlatada ou vendida. É impossível de se prender. Nossas músicas seguem esse raciocínio.”
O single escolhido para o álbum, chamado Plastic Thirlls, difere muito do restante das canções do disco. Algo, explica o guitarrista, também proposital. “A ideia é que esse disco seja uma espécie de mixtape, como aquelas na época das fitas cassetes, com canções muito diferentes entre si e todas com potencial para ser um single. É claro, você precisa escolher um single. Os fãs gostaram dessa.”
Fã de música tropicalista, principalmente de artistas como Gal Costa, Caetano Veloso e Tom Zé, Dieterich espera encontrar o último no bairro da Pompeia, onde ele mora e próximo ao Sesc. “Conheci Tom Zé em um disco dos anos 1990. De repente, descobri toda a discografia dele. É incrível. Explodiu a minha cabeça”, diz. Do Tom Zé, é possível dizer que o Deerhoof pega emprestada a inventividade, mesmo que as guitarras falem mais alto na banda norte-americana. “Somos tão diferentes que, se concordamos em algo, é porque deve ser bom”, ele ri.
DEERHOOF E LOS NASTYS
Sesc Pompeia. Comedoria.
Rua Clélia, 93, Pompeia, tel.: 3871-7700. 5ª, a partir das 21h30. R$ 12 a R$ 40.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.