É bonito de ver como a música alternativa brasileira tem sido capaz de saltar as barreiras estabelecidas por um sistema que privilegia os artistas massivos. Luneta Mágica e Plutão Já Foi Planeta, com horários ingratos de palco no Lollapalooza 2018, no Autódromo de Interlagos, as bandas de Manaus e Natal, respectivamente, deram seu suor. Receberam palmas e ovações em troca.
A começar pela Luneta Mágica, que, como feitiço, foi capaz de fazer com que os termômetros acima dos 30ºC fossem ignorados pelos poucos – porém fiéis – fãs que chegaram ao festival ainda cedo. Às 12h, já estavam no palco Onix, com seus dois discos como repertório e um convite ao derretimento, com seus vocais alongados e dobrados, loopings e uma candura psico-pop.
Recentemente, a banda tem se movimentado, musicalmente falando, em direção ao universo da psicodelia completa. Com Parte, canção lançada no ano passado, eles dão o recado. É quando o show hipnotiza, inebria, descola da realidade.
Já com músicas como Lulu, do segundo disco, chamado No Meu Peito, de 2015, eles estabelecem sua capacidade de manter os pés no chão, no real.
Não era um público numeroso, é verdade, mas quem esteve ali, conheceu a Manaus que os rapazes levam consigo para onde quer que vão.
E carregam, desde a quinta-feira, 22, também a saudade. O produtor Carlos Eduardo Miranda, que morreu aos 56 anos, trabalhava com o grupo para o terceiro disco. Dele, que viria com a banda para o Lollapalooza, restou a ausência. “Miranda, ei, véio, esteja bem onde você estiver”, gritou Erick Omena, vocalista e guitarrista da banda.
No palco ao lado, o Axe, logo na sequência, o Plutão Já Foi Planeta encontrou um número maior diante de si. Dona de um punhado de canções delicinha, que faz cafuné no coração até quando o machuca, a banda deu um passo firme em direção à algo maior.
Eles têm tudo, afinal. Carisma, vontade, entrega no palco. Com Rashid, na música Insone, eles trouxeram uma porção de rap, mais incisivo e conta batente para sua performance. Golaço.
Também apresentam, nas suas músicas, um apanhado de sentimentos com os quais qualquer um se relaciona. São corações, cheios ou vazios – às vezes em dúvida – expressos em versos que não agridem, mas acariciam. Diante de pessoas bastante jovens na plateia, ainda com os hormônios em ebulição, a calma trazida nas canções mais trágicas é acalanto.