Em meio a muitas dúvidas e questionamentos sobre se o governo vai ou não alterar a meta fiscal, que contempla zerar o déficit primário em 2024, a Coface, companhia francesa líder no segmento de seguros de crédito, divulga o seu "Barômetro", relatório para o terceiro trimestre, mostrando que tal objetivo não será alcançado.
O "Barômetro" é um compilado das avaliações e análises dos economistas e analistas da Coface espalhados pelos mais de 100 países em que ela atua presencialmente e de mais outros 100 em que mantém correspondentes.
As incertezas quanto à manutenção ou não da meta fiscal aumentaram nos últimos dias, a reboque da declaração feita na sexta-feira, 27, pelo presidente Lula e segundo a qual a meta de primário no ano que vem não precisa ser zero.
"Estamos com uma previsão de fiscal um pouco pior para o ano que vem. Não temos previsão, por exemplo, do cumprimento da meta zero de primário para 2024 e isso é anterior às falas do Lula", disse ao <i>Broadcast</i> (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) o economista da Coface Brasil, João Ferraz.
Ele cita como reforço à previsão da companhia a mediana das expectativas dos analistas do mercado no Boletim Focus, que prevê para ano que vem um déficit de 0,75% do PIB. "Nossa estimativa está nesta mesma linha, de que não vamos conseguir cumprir a meta. E isso levará a uma série de consequências graves para o País", acrescentou o economista.
Segundo Ferraz, haverá uma frustração muito grande da arrecadação na esteira do enfraquecimento da atividade econômica, e não realização de obras previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Também, diante de um fiscal incerto, o estrangeiro vai se tornar mais criterioso nas suas análises para investir no Brasil. Terá impacto, entre outras coisas, sobre o câmbio.
<b>Dívida Pública</b>
O valor da dívida pública, na proporção do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com o Barômetro da Coface, fechará este ano em 75,5%, mas aumentará para 78% do PIB em 2024.
As incertezas quanto ao fiscal e a expectativa de aumento da dívida fizeram com que a Coface mantivesse o rating do Brasil classificado com a nota "B" mesmo considerando as vantagens comparativas do país. Essa é a mesma nota dada à China, que embora seja uma pujança econômica, de acordo com Ferraz, é um país administrado por um regime político antidemocrático e autoritário, que pune, até de morte, seus críticos e encontra-se em constantes conflitos regionais.
Além disso, as previsões otimistas em relação à economia global que prevaleceram no início deste ano, de acordo como relatório da Coface, estão dando agora lugar a um clima de incerteza, causado principalmente pela persistência da inflação. Isso, sem dúvida, afeta o Brasil em alguma medida.
Todavia, o Brasil, apesar de ser uma economia ainda muito fechada, ostenta vantagens comparativas que, se não o permite entrar no clube dos países mais bem avaliados, não o deixa cair para níveis de Argentina e Venezuela, por exemplo, que têm nota "D" pelo rating da Coface, atribuído a países em situação de guerra.
No entanto, a inflação global alta que tem levado a um patamar elevado de juro mundo afora, tem aumentado a aversão ao risco e a um consequente aumento de exigências dos investidores externos para colocar dinheiro no País.
"Não chega a ser desastroso porque os agentes têm respondido de forma positiva os sinais que o governo tem dado na direção de uma agenda verde", disse Ferraz, ressaltando que com isso o Brasil acaba por ficar no meio termo.