Logo no começo do novo Batman, o Homem-Morcego entra meio como penetra no cenário de um crime. O prefeito de Gotham City, candidato à reeleição, é assassinado. Seu filho, um garoto, é quem encontra o corpo. Há uma troca de olhares entre Batman e ele. O que vem, para o herói da DC, é o próprio passado, a morte brutal de seus pais, quando ele também era menino. Bruce Wayne, o alter ego do Homem-Morcego, vive preso àquele momento. O fantasma do pai o atormenta. Tornou-se vigilante em defesa da cidade, mas confessa aqui que o medo que sentiu na infância nunca o abandonou totalmente.
Na ficção de Matt Reeves – diretor de Cloverfield: Monstro e dois Planeta dos Macacos -, a onda de crimes em Gotham City se liga à corrupção da política e da polícia. Batman enfrenta o Charada, que o envolve em seus enigmas. Alfred, o mordomo, o ajuda a decifrar as charadas. Elas levam a um plano sinistro para destruir Gotham City. Vingança, renovação. São palavras-chave em Batman. Logo após a troca de olhares do início e após mais de duas horas de ação frenética – o excesso dá o tom da mise-en-scène: sombras, chuva intermitente -, Batman abre os braços para acolher o filho do ex-prefeito. É como se ele se reconciliasse consigo mesmo. No processo, ganha uma aliada, Zoe Kravitz. Um beijo mostra que poderiam ser algo mais.
<b>Camp</b>
Reeves já disse que seu interesse por Batman remete a Adam West, que interpretou o papel no ano de seu nascimento, 1966. O Batman de Adam West é considerado camp, mas, para Reeves, é maneiro. Ele ainda o vê com seus olhos de menino. Houve muitos mascarados depois daquele. Na chamada para o de Reeves, uma frase é essencial. A verdade será desmascarada. Na sucessão de máscaras que caem, os vilões são revelados até o último deles. Como no Coringa de Todd Phillips, esse Charada definitivo será a expressão de uma revolta coletiva. Todo mundo armado. Bangue-bangue. Não é assim que se constrói uma democracia.
O grande trauma para o qual Batman não está preparado é a revelação dos pecados de seu pai. Zoë também enfrenta os pecados do pai dela. Reeves já disse que quis fazer um Batman bem pessoal. Seu Homem-Morcego remete ao tormento do Cesar de Planeta dos Macacos. Num determinado momento, quando acolhe o menino, parece que ele vai realizar sua vocação de herói, liderando com a tocha a promessa da verdadeira renovação.
Poderia ser o fim, mas Batman ainda tem mais dois ou três desfechos que, se não enfraquecem, tornam redundante o que Reeves está querendo dizer sobre o herói, e o estado do mundo. Robert Pattinson já provou que é ator de verdade. Faz, como diriam os americanos, um Batman terrific.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>