Enquanto o Banco Central (BC) eleva os juros para esfriar a economia e combater a escalada da inflação, o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) atua, em sintonia com o Congresso, como um adversário e aprova medidas que estimulam o consumo, pressionando ainda mais a alta de preços.
Medidas como cortes de impostos, estímulos ao crédito e a liberação do saque extraordinário do FGTS vão na direção contrária do que deveria ser feito para controlar a inflação, segundo economistas. Isso tende a adiar os efeitos dos remédios adotados pelo BC, mantendo a inflação elevada por mais tempo.
"É como dirigir um carro e pisar no freio e no acelerador ao mesmo tempo", diz Fábio Akira, economista-chefe da BlueLine e ex-JP Morgan. "O freio não terá a mesma eficiência. O mesmo acontece quando políticas de estímulo à demanda atuam contra o aperto monetário."
Assim como Akira, economistas ouvidos pelo <b>Estadão/Broadcast</b> são categóricos na avaliação de que o BC está sozinho para realizar um trabalho que já seria naturalmente desafiador após a pandemia, quando governos e bancos centrais do mundo todo injetaram dinheiro na economia para evitar um colapso financeiro.
"É uma tarefa hercúlea, essa do BC de combate à inflação. Ele não tem nenhuma ajuda vinda do outro lado da Esplanada", aponta o ex-diretor de Política Monetária do BC Aldo Mendes.
O governo não compromete a eficácia da política monetária do Banco Central apenas lançando medidas que reforçam a demanda. Os preços refletem também as expectativas, e o Planalto não contribui para melhorar as previsões para a inflação quando alimenta incertezas sobre os rumos das contas públicas.
Para Adauto Lima, economista-chefe da gestora Western Asset, enquanto a política monetária tenta esfriar o consumo, o governo lança medidas de expansão no sentido contrário. "Com a surpresa da arrecadação, era para o governo caminhar a um superávit primário, não déficit primário."
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>