Apesar da inflação persistente, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central cumpriu o prometido e puxou o freio no ritmo de alta da Selic (a taxa básica de juros). A taxa subiu 0,50 ponto porcentual, de 12,75% para 13,25% ao ano.
Com a elevação a 13,25%, a Selic alcançou o maior patamar em cinco anos e meio, desde janeiro de 2017 (13,75%). Foi a 11ª primeira alta consecutiva neste ciclo de aperto monetário, que já é o mais longo da história do Copom. Desde o primeiro aumento, em março de 2021, quando a Selic estava na mínima de 2%, a taxa já subiu 11,25 pontos porcentuais, o maior choque de juros desde 1999.
A decisão foi tomada horas depois de o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, também preocupado com as pressões sobre os preços, elevar a taxa básica de juros para o intervalo entre 1,5% e 1,75% ao ano, a mais elevada desde março de 2020, no início da pandemia, quando estava entre 1% e 1,25%.
Na economia americana ou aqui, um aumento dos juros encare o crédito e o custo da dívida pública. Com um financiamento mais caro, empresas podem também passar a investir menos, impactando negativamente o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda.
Além disso, juros mais altos nos EUA elevam a atratividade de se investir na segura renda fixa norte-americana, o que tende a aumentar o ingresso de recursos na maior economia do mundo e, consequentemente, valorizar o dólar frente a outras moedas.
Aqui no Brasil, a decisão do Copom era plenamente esperada pelo mercado financeiro, já que o BC sinalizou, após subir a Selic em 1 pp no Copom de maio, que avaliava "como provável uma extensão do ciclo com um ajuste de menor magnitude" para a reunião deste mês.
De 50 instituições financeiras consultadas pelo <i>Projeções Broadcast</i>, 46 esperavam alta de 0,50pp dos juros básicos, para 13,25%. Três casas estimavam aumento de 0,75pp, a 13,50%, enquanto uma projetava a manutenção do ritmo de aperto monetário de maio, de 1,00 pp, para 13,75%.
Em fevereiro, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, avaliou que a inflação brasileira deveria atingir seu pico entre abril e maio, começando a desacelerar nos meses seguintes.
A inflação oficial do País, o IPCA, ficou em 0,47% em maio, com desaceleração na comparação com o mês anterior. Mesmo assim, acumulou um aumento de 11,73% em doze meses.
Em 2022, a meta central de inflação é de 3,5% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2% a 5%. O mercado financeiro e o BC, porém, já preveem a inflação de quase 8,89% em todo este ano. Se confirmado, será o segundo ano seguido de estouro da meta de inflação.
O BC já está calibrando a taxa Selic para atingir a meta de inflação do ano que vem, uma vez que as decisões sobre juros demoram de seis a um ano e meio para terem impacto pleno na economia. Para 2023, a meta de inflação foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.
<b>Juro real</b>
Com o novo aumento da Selic, o Brasil continua a ter a maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo, em uma lista com 40 economias. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 8,10% ao ano.
Em segundo lugar na lista que considera economias mais relevantes, aparece o México (4,48%), seguido da Colômbia (4,47%). A média dos 40 países avaliados é de -1,70%.