O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, disse nesta terça-feira, 27, que o superávit nas transações correntes em junho veio abaixo do esperado pelo BC devido à importações fictas de US$ 2,5 bilhões no âmbito do Repetro no mês passado. O BC esperava um superávit de US$ 6,5 bilhões em julho, mas o desempenho foi US$ 3,7 bilhões inferior, ficando positivo em US$ 2,791 bilhões.
Segundo Rocha os maiores déficits nas contas de serviços e rendas foram contrabalançados por um aumento expressivo no superávit da balança comercial. Em junho do ano passado, o superávit das transações externas havia sido de US$ 3,056 bilhões. "A ligeira redução interanual do superávit em conta corrente deve-se a aumento do déficit de serviços em junho e à alta de despesas primárias", completou.
Para julho, o BC espera um novo superávit, de US$ 1,3 bilhão. "Se isso se confirmar, haverá manutenção na trajetória de queda do déficit em conta corrente acumulado em 12 meses", acrescentou Rocha.
Fernando Rocha, admitiu o "baixo resultado" dos Investimentos Diretos no País (IDP), que somaram apenas US$ 174 milhões em junho. O BC esperava uma entrada de US$ 2,5 bilhões nessa conta no mês passado. No mesmo período do ano passado, o montante havia sido de US$ 5,165 bilhões.
"A conta de lucros reinvestidos e as operações intercompanhia tiveram resultados negativos no mês passado. Embora o BC não esperasse esses resultados na sua projeção, são resultados normais que podem ocorrer em alguns momentos durante o ano", alegou.
Rocha destacou que, no acumulado do primeiro semestre, o ingresso de investimentos estrangeiros destinados ao setor produtivo somou US$ 25,691 bilhões, um valor bem superior ao rombo nas contas externas de US$ 6,975 bilhões no mesmo período.
Para julho, o BC estima uma entrada de US$ 4,7 bilhões em IDP. "Caso essa projeção se confirme, veremos uma nova redução do IDP acumulado em 12 meses em julho", completou.
Fernando Rocha também destacou que investidores não residentes já recompuseram de forma integral posição em carteira no País, após saída intensa no primeiro semestre do ano passado em meio à crise da pandemia de covid-19.
O investimento estrangeiro em ações brasileiras ficou positivo em US$ 2,523 bilhões em junho, informou nesta terça o Banco Central. No acumulado do primeiro semestre, o saldo ficou positivo em US$ 8,695 bilhões.
Já o investimento líquido em fundos de investimentos no Brasil ficou negativo em US$ 4,69 milhões em junho. No primeiro semestre, os fundos registram saídas líquidas de US$ 284 milhões.
O saldo de investimento estrangeiro em títulos de renda fixa negociados no País ficou positivo em US$ 2,560 bilhões em junho. No acumulado do primeiro semestre, o saldo em renda fixa ficou positivo em US$ 12,095 bilhões.
<b>Viagens internacionais</b>
O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central também disse que, após de longa série de redução nas despesas líquidas com viagens internacionais, já há algum aumento nos últimos meses.
Ainda sob os efeitos da pandemia do novo coronavírus na economia, a conta de viagens internacionais registrou déficit de US$ 221 milhões em junho. Em junho de 2020, o déficit nessa conta foi de US$ 72 milhões.
"O déficit de viagens em junho foi o maior desde março do ano passado, superando pela primeira vez os US$ 200 milhões. Claro que ainda está muito abaixo dos valores de antes da pandemia, quando o saldo negativo superava a casa de US$ 1 bilhão", apontou.
Na prática, com o dólar mais elevado e a restrição de voos em vários países, os gastos líquidos dos brasileiros no exterior despencaram nos últimos meses.
O desempenho da conta de viagens internacionais no mês passado foi determinado por despesas de brasileiros no exterior, que somaram US$ 449 milhões – que também foram as maiores desde março de 2020. "Em relação a junho do ano passado, o aumento foi de 88%", acrescentou Rocha.