As projeções oficiais do Banco Central para a inflação voltaram a subir, conforme o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu manter a taxa básica de juros em 10,50% ao ano, divulgado há pouco. No cenário de referência, que utiliza câmbio conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC) e juros do Relatório de Mercado Focus, o BC alterou a projeção do IPCA de 2024 de 3,8% para 4,0%. Para 2025, a atualização foi de 3,3% para 3,4%.
Também considerando o cenário de referência, a autarquia atualizou no Copom as projeções para os preços administrados. Em 2024, a estimativa passou de 4,8% para 4,4%. Já em 2025, manteve-se em 4,0%. Nesse cenário, o BC considera ainda que o preço do petróleo deve seguir aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passar a aumentar 2% ao ano na sequência. Também adota a hipótese de bandeira tarifária "verde" em dezembro de 2024 e 2025.
No mercado, a expectativa de inflação do Boletim Focus deste ano disparou entre os dois encontros do Comitê (de 3,72% para 3,96%) e a para 2025, foco principal da política monetária, também aumentou significativamente – de 3,64% para 3,80%. Tanto as projeções do Copom quanto as do mercado seguem bem acima da meta contínua, de 3,00% que deve ser oficializada pelo governo na semana que vem. Para horizontes mais longos, o Focus também mostra desancoragem.
<b>Em linha</b>
A definição dos juros pelo Copom veio em linha com o esperado pelo mercado financeiro: 43 de 50 casas consultadas pelo <biProjeções Broadcast</i> aguardavam a manutenção da taxa. Uma fatia menor (20 de 29 instituições) projetava que a decisão seria unânime, depois da reunião anterior, que gerou muito estresse pela divisão dos votos. A ala minoritária – formada por todos os diretores nomeados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva – gostaria de ver mais um corte de 0,50 ponto porcentual da Selic. Prevaleceu, no entanto, uma redução menor, de 0,25 pp, definida pelos cinco membros do colegiado mais antigos.
"O Comitê, unanimemente, optou por interromper o ciclo de queda de juros, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam maior cautela", diz o comunicado do Copom. O documento ressalta ainda que "a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas". "O Comitê se manterá vigilante e relembra, como usual, que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta."
<b>Juro real</b>
O País segue em segundo lugar no ranking mundial dos juros reais (descontada a inflação à frente). Segundo levantamento do site MoneyYou com 40 economias, o Brasil passa a ter uma taxa de juros real de 6,79%, apenas atrás da Rússia (8,91%). Em terceiro, aparece o México (6,52%).
A média das 40 economias pesquisadas é de 0,36%. Até a informação mais recente divulgada pelo BC, o juro neutro brasileiro, que não estimula nem contrai a economia e, consequentemente, não acelera nem alivia a inflação brasileira, era estimado pela instituição em 4,5%. Em reunião do mercado com o BC no início deste mês, economistas cogitaram a possibilidade de o juro real neutro já estar próximo da casa de 6%.