Estadão

BC/Serra: Estamos preocupados mais conosco aqui do que com cenário externo

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, afirmou nesta terça-feira, 10, que os dirigentes da instituição estão, atualmente, mais preocupados com o cenário interno do que com o externo, sob o ponto de vista da política monetária.

Serra pontuou que há preocupações com o fechamento mais rápido do hiato do produto no País, com o impacto inflacionário da retomada do setor de serviços e com os choques de custos que se acumularam. Entre os choques mais recentes estão os de alimentos, combustíveis e energia elétrica. "Estamos preocupados mais conosco aqui que com cenário externo", disse o diretor.

Serra afirmou ainda que a Selic (a taxa básica de juros) a 5,25% ao ano, apesar de mais alta, ainda está em nível muito baixo para os padrões históricos brasileiros.

Ao avaliar a economia internacional, porém, o diretor reconheceu que existe um risco de a variante Delta da covid-19 desacelerar o crescimento global. "É um risco razoável no cenário, do lado da atividade, que talvez não tivéssemos um mês atrás", disse.

Outro risco citado pelo diretor é a pressão inflacionária em países que estão saindo da pandemia. Segundo ele, no entanto, o Brasil e outros países emergentes estão em "outro momento". "A preocupação com a inflação no exterior ainda não se reflete nos preços de mercado. Não é fator muito relevante neste momento", disse.

De acordo com o diretor, o mandato principal do BC é o controle da inflação – justamente o problema atual a ser enfrentado. "Doze meses atrás, nosso problema era hiato e não deixar inflação ir para baixo", comparou.

<b>Energia</b>

Ao tratar da pressão inflacionária no setor de energia brasileiro, Serra afirmou que, para dar mais transparência a suas decisões, o BC tem apresentado suas premissas para a bandeira tarifária tanto no ano de 2021 quanto em 2022. "Está incluído na projeção do cenário básico", disse. "Se cenário energético mudar, para melhor ou pior, vamos rever premissas", acrescentou.

<b>Combustível e alimentos</b>

O diretor de Política Monetária do Banco Central afirmou não ser capaz de sinalizar sobre a inflação em 12 meses de combustível e alimentos. Em evento do Goldman Sachs, Serra disse que não há também como ter certeza se a inércia inflacionária é estrutural e que o Comitê de Política Monetária não tem avaliado se a inércia é maior ou menor.

"Historicamente, a inflação de serviços é mais inercial. Não temos evidência de que oferta no setor de serviços voltará ao pré-pandemia", completou. Ele ressaltou que, mesmo com a piora na pandemia verificada no início do ano, as empresas nunca ganharam tanto dinheiro. "As margens estão elevadas", acrescentou.

Serra participou nesta terça-feira, por videoconferência, da 8ª Conferência Anual sobre Macroeconomia e Estratégia no Brasil , organizada pelo Goldman Sachs. Na semana passada, ele não participou da reunião presencial do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, por ter testado positivo para a covid-19.

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