A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central divulgada nesta terça-feira, 22, deixou claro que a trajetória de juros projetada pelo BC implica num patamar "significativamente contracionista" da política monetária, que tem impacto principalmente na inflação de 2023. Na semana passada, o colegiado elevou a Selic (a taxa básica de juros) em 1,00 ponto porcentual, de 10,75% para 11,75% ao ano.
Conforme a autoridade monetária, esse aperto é compatível com o combate aos efeitos de segunda ordem do atual choque de oferta.
"Entretanto, caso o cenário prospectivo se mostre mais próximo ao observado no cenário de referência, o Comitê avalia que este ciclo deverá ser ainda mais contracionista", ponderaram os diretores.
No cenário de referência, a inflação é mais elevada do que no alternativo por causa do impacto dos preços de petróleo.
O Copom explicou que mantém o viés altista para as projeções dos seus cenários considerando o balanço de riscos. "Considerado esse viés devido à assimetria de riscos, suas projeções se encontram acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta para 2022, e ainda ao redor da meta para 2023", indicou.
Dado esse cenário, o Copom considerou que, no momento da reunião passada, um ciclo de aperto monetário semelhante ao utilizado nos seus cenários seria o mais adequado. "Pesou para essa avaliação do Comitê o incremento de pelo menos 0,75 p.p. no ciclo de juros projetado em todo o horizonte relevante, desde a última reunião do Copom."
<b>Surpresa inflacionária</b>
O Copom admitiu nesta terça que, mais uma vez, a inflação tem surpreendido a cúpula do Banco Central. "A inflação ao consumidor segue elevada, com alta disseminada entre vários componentes, e mais persistente que o antecipado", trouxe a ata.
A alta nos preços dos bens industriais não arrefeceu, de acordo com a diretoria colegiada do BC e mais: deve persistir no curto prazo. Já a inflação de serviços, conforme o grupo, acelerou ainda mais. "As leituras recentes vieram acima do esperado e a surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos mais associados à inflação subjacente", pontuaram.
O documento também apontou que diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 6,4% e 3,7%, respectivamente.
<b>Incerteza sobre arcabouço fiscal</b>
A incerteza em relação ao futuro do arcabouço fiscal atual resulta em elevação dos prêmios de risco e eleva o risco de desancoragem das expectativas de inflação. A frase faz parte da ata do Copom divulgada pelo Banco Central. De acordo com o documento, isso implica atribuir maior probabilidade para cenários alternativos que considerem taxas neutras de juros mais elevadas.
"Esse movimento já é observado, em alguma medida, nas expectativas de inflação para prazos mais longos extraídas da pesquisa Focus, assim como nos prêmios de risco de diversos ativos locais", citou a autoridade monetária. O Copom também reiterou que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para o crescimento sustentável da economia.
"Esmorecimento no esforço de reformas estruturais e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia", escreveram os diretores.
<b>Desestímulo da atividade</b>
O Copom ainda reconheceu por meio da ata de seu último encontro que o ciclo de aperto monetário desestimula a atividade, mas apontou que o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no fim do ano passado veio melhor que o esperado.
Com um PIB melhor que o projetado no quarto trimestre de 2021, o Copom destacou que há um carrego estatístico um pouco maior para 2022.
"Indicadores relativos ao comércio e serviços mostraram evolução ligeiramente melhor que a esperada em janeiro, enquanto a indústria contraiu no mesmo mês. Indicadores do mercado de trabalho seguiram mostrando recuperação consistente de empregos no último trimestre de 2021 e em janeiro de 2022", citou o documento.
Para este ano, o Copom segue apostando no bom desempenho da agropecuária – ainda que em volume menor que o projetado anteriormente, além da normalização da economia, sobretudo em serviços e no mercado de trabalho. Por outro lado, a elevação dos prêmios de risco e o aperto mais intenso das condições financeiras desestimulam a atividade em 2022.