Estadão

BCE já cobriu maior parte do terreno nas altas das taxas de juros, afirma dirigente

Membro do conselho do Banco Central Europeu (BCE), François Villeroy de Galhau disse nesta sexta-feira, 16, que a autoridade monetária já "cobriu a maior parte do terreno" nas alta das taxas de juros, e que a principal questão agora é a transmissão das decisões de política monetária anteriores. Villeroy de Galhau comentou que pode levar até dois anos para que todos os efeitos econômicos do aperto sejam sentidos, e que, portanto, a sua duração importa mais que o seu nível.

O dirigente afirmou que os dados econômicos recentes mostram que a política monetária está funcionando, mesmo que a inflação ainda esteja longe da meta de 2%. "A inflação já atingiu o seu pico na zona do euro, o núcleo da inflação recuou pelo segundo mês consecutivo, e há vários outros sinais de que as pressões de preço subjacentes estão amenizando", listou.

Ele afirmou estar confiante de que o BCE cumprirá a meta dentro dos próximos dois anos. "De acordo com a previsão de inflação de ontem, que é bastante cautelosa, a inflação deve ficar em 3% na zona do euro até o final deste ano e em 2% até 2025", disse.

<b>Moedas</b>

As declarações foram feitas em discurso no período da manhã, no qual falou também sobre o papel do euro em um sistema monetário internacional multilateral, conforme cresce a pressão por maior diversificação em relação às moedas – citando, inclusive, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.

Villeroy de Galhau disse que o debate sobre o papel do dólar como âncora no sistema foi reacendido, com "forças geopolíticas poderosamente trabalhando, sobretudo desde a invasão da Ucrânia pela Rússia". "A China, a segunda maior economia do mundo, há vários anos expressa seu desejo de internacionalizar o renminbi (yuan); isso já se materializou em seu comércio e pode se acelerar nos próximos anos", apontou. "Como resultado, é provável que assistamos a uma profunda reconfiguração dos equilíbrios comerciais e financeiros internacionais e, potencialmente, do equilíbrio de poder entre moedas."

O dirigente do BCE comentou então, de maneira mais ampla, que os membros dos Brics – Lula, em particular – tem expressado o desejo por "desdolarizar" suas economias, ou até mesmo criar uma moeda comum. "Essas premissas políticas exigem vigilância, porque levariam à fragmentação e não à diversificação monetária", opinou.

Outras forças, como os impasses em torno do teto da dívida dos EUA e a rápida alta nos juros do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), podem levar a mudanças no equilíbrio do sistema monetário internacional, disse ele.

O dirigente afirmou que o peso do dólar provavelmente continuará forte no médio e no longo prazos, mas que outras moedas, incluindo o euro e os dólares canadense e australianos, estão cada vez mais sendo usados como reserva. "Um movimento coletivo em direção a um sistema financeiro internacional mais multipolar parece, portanto, estar em andamento. No entanto, um sistema de confronto, ou fragmentação desordenada, só levaria a instabilidade e ineficiência", defendeu.

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