Presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde afirmou nesta quarta-feira que as medidas de expectativa de inflação no mais longo prazo "têm recuado consideravelmente". Segundo ela, essas medidas têm respondido mais a notícias de curto prazo, o que pode ser interpretado como um sinal de que sua ancoragem tem diminuído.
A declaração foi dada durante discurso em conferência da própria instituição em Frankfurt. Segundo Lagarde, o ambiente de baixa inflação traz "questões fundamentais" para os bancos centrais. Ela alertou que o "fracasso persistente em atingir metas" pode afetar as expectativas para os preços.
O tema principal do discurso foi a revisão da estratégia política monetária do BCE, que segundo a dirigente está em andamento. Ela afirmou que a última década tem sido definida pela "queda persistente na inflação em economias desenvolvidas", o que gera questões sobre possíveis ajustes na política para responder a isso. Ela argumentou, por exemplo, sobre a necessidade de o BCE ter uma meta de inflação que o público possa entender – atualmente ela deve ficar "abaixo, mas próxima de 2%".
Segundo ela, é preciso também haver clareza sobre o horizonte no qual a estabilidade de preços deve ser alcançada. O ambiente de inflação baixa gera novas questões sobre como operacionalizar o médio prazo, apontou. Um persistente fracasso na busca da meta pela inflação pode refletir nas expectativas para os preços e provocaria um horizonte mais curto para a política, disse Lagarde.
A presidente do BCE também destacou as relações entre as políticas fiscal e monetária. De acordo com ela, a primeira influencia a segunda ao fomentar a demanda, o que "traz perspectivas econômicas melhores para as empresas".
<b>Meta</b>
Christine Lagarde também afirmou no evento que há uma discussão hoje entre os bancos centrais sobre um eventual compromisso deles em deixar a inflação ficar acima da meta por um tempo, para compensar períodos em que ela esteve abaixo disso. Segundo Lagarde, o BCE "poderia examinar" o uso da estratégia.
A fala é feita após o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) adotar um conceito de inflação média, ajuste que, no futuro, poderá deixar a inflação nos Estados Unidos um tempo acima da meta de 2% para compensar a fraqueza dos últimos anos.
Lagarde comentou que a estratégia, "se crível", poderia fortalecer a capacidade da política monetária de estabilizar a economia em período de inflação fraca. Segundo ela, essa promessa de inflação acima da meta "eleva as expectativas para os preços e portanto reduz as taxas de juros reais". Lagarde disse que estratégias do tipo podem ser menos bem-sucedidas "quando as pessoas não são perfeitamente racionais em suas decisões – o que é provavelmente uma boa aproximação da realidade que enfrentamos", mas também afirmou que "a utilidade de tal abordagem poderia ser examinada".