Variedades

Beatles e Stones saem em quadrinhos

É possível tangenciar o mito de uma banda de rock com biografias, documentários, caricaturas. O cartunista finlandês Mauri Kunnas resolveu fundir todas as possibilidades para fazer o seu retrato dos dois maiores gigantes do rock: Beatles e Rolling Stones.

As duas graphic novels que Kunnas produziu chegaram ao Brasil este mês pelas mãos da Edições Ideal. São duas obras de naturezas muito distintas. Beatles com A: O Nascimento de Uma Banda tem uma pegada mais biográfica, se passa no período inicial dos Beatles e seus primeiros shows em Hamburgo. Mac Moose e os Stones é pura lisergia: um escritor de livros policiais de segunda abriga em sua casa o guitarrista Keith Ricardos, da banda Rolling Gallstones (As Pedras de Vesícula Rolantes), que acaba de escapar de um grupo de terroristas que fez refém toda a banda.

Segundo informa o agente literário e tradutor finlandês Pasi Loman, Mauri Kunnas é “o autor mais amado da Finlândia; a maioria das famílias finlandesas tem ao menos um livro de sua autoria”. Na Feira do Livro de Frankfurt de 2014, havia uma fila enorme esperando por um autógrafo do cartunista.

Grande fã dos Beatles desde os anos 1960, Mauri Kunnas não é idólatra: ele tira sarro de tudo, inventa fatos engraçados que nunca aconteceram e faz um trabalho iconoclasta e ao mesmo tempo reverente sobre os grupos. Uma dentadura assassina (homenagem ao personagem Jaws, de James Bond) persegue o guitarrista dos Stones graças a uma das mancadas do avarento Jacques Migger, ou Beiçudo.

O desenhista respondeu a algumas perguntas do jornal O Estado de S.Paulo – em finlandês (suas respostas foram traduzidas por Lilia Loman). Ele diz que acalentou o sonho de fazer a graphic novel por duas décadas e trabalhou dois anos para chegar ao resultado, e que agora planeja uma história sobre Yoko Ono e John Lennon (mais tarde, avisa, será a vez de Elvis e Dylan).

Admirador de Carl Barks, Charles Schulz e Bill Waterson, Kunnas também enumerou outras influências. “Na literatura infantil, um exemplo de minhas influências é Richard Scarry. Nas histórias em quadrinhos é Elzie Crisler Segarin, de Popeye.
A música também tem grande influência em meu processo criativo. Por exemplo, quando escrevi Aventuras no Espaço (Hedra Editora), ouvi a música de Paul McCartney, Venus and Mars. A sensação de luminosidade dessa música torna o livro luminoso também, embora o espaço seja escuro. Quando eu estava ilustrando Papai Noel (história inédita no Brasil, com mais de um milhão de cópias vendidas no mundo), ouvi o álbum de natal de Phil Spector.”

Ele, que confessa ser mais fã dos Beatles do que dos Stones (os gibis denunciam isso; ele é mais sarcástico com os Stones), costuma ler tudo que lhe cai nas mãos sobre os Fab Four. “Os livros mais interessantes são aqueles em que uma pessoa de fora conta como a vida da banda era. Meu favorito é Tune In. The Beatles. All These Years, o primeiro volume.” Também conta que nunca foi alvo de tentativas de cerceamento de seu trabalho por advogados dos grupos. “Ninguém criticou ou ficou chateado com o humor nos livros, os membros das bandas também têm/tinham senso de humor”, ponderou.

Kunnas também comentou os atentados recentes contra o jornal Charlie Hebdo em Paris e contra cartunistas na Dinamarca. “O trabalho de um caricaturista é criticar e ridicularizar. Porém zombar sem razão não é necessário. Neste caso, a reação dos islâmicos fundamentalistas é exagerada e condenável.”

“Sou um grande fã dos Beatles e frequentemente visito convenções de fãs, como por exemplo em Liverpool. Lá conheci excelentes bandas cover dos Beatles brasileiras. A que mais me impressionou foi a dupla Gleison Túlio e Keilla Jovi. Parece que há muitos fãs dos Beatles no Brasil. É uma pena que não pude ir ao Brasil para o lançamento do livro”, lamentou o cartunista, em mensagem a seus editores.

Mauri Kunnas tem 65 anos e nasceu em Vammala, no sudoeste da Finlândia, a cerca de 50 km da segunda maior cidade do país, Tampere. Já publicou mais de 40 livros em 36 países, vendendo cerca de 7 milhões de exemplares. Como Robert Crumb, também teve um irmão que desenhava e que ele considera genial, Matti. Mas o irmão não seguiu a carreira. “Matti conseguiu entrar na Faculdade de Direito, eu não consegui… Matti se tornou um advogado e eu me tornei um ilustrador”, conta. Tem duas filhas, Jenna e Noora. Jenna também é ilustradora, estudou na mesma faculdade do pai, a Taik (Escola de Arte e Design/ Aalto University). “Minhas filhas Jenna e Noora publicarão um livro neste outono, The Wacky Bunch and the Cabinet of Horrors”, revela. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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