Depois de três anos e cinco meses internado no mesmo hospital onde nasceu, e há três semanas em casa com a família, em Espírito Santo do Pinhal, interior de São Paulo, ninguém segura o menino Luiz Miguel. Ele manda um “positivo” com o dedo, agita os braços, bate palmas, solta uma gargalhada e vai arrastando, atrás de si, uma parafernália de tubos, máquinas e gente.
A alegria que contagia os pais, Lúcio e Lívia, a irmãzinha Lavínia e as enfermeiras do home care não cabe na casa. Os vizinhos do Parque das Nações, um bairro popular, também se alegram com a saga do menino. “Até nossa cachorra, a Serena, não para de pular e correr”, diz a mãe.
Tudo isso porque Luiz Miguel Monteiro Filomeno é um sobrevivente. Ele nasceu em 4 de fevereiro de 2014, prematuro de 28 semanas, com o corpo ainda em formação. Os dois pulmões não estavam abertos para receber o ar e o esôfago não se conectara com o estômago. Mesmo assim, o bebê nasceu com vida e a equipe médica do Hospital e Maternidade Celso Pierro, da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Campinas) usou todos os recursos da medicina para mantê-lo vivo.
“Eles são os heróis, se dedicaram muito, colocaram à prova todo seu conhecimento para que nosso menino vivesse”, afirma a mãe, a costureira Lívia da Silva Monteiro, de 33 anos.
Ela conta que, assim que examinaram o bebê, os médicos já sinalizaram que só por milagre ele sobreviveria. A criança tinha má formação nas vértebras, um pulmão não estava completo, o esôfago estava obstruído e ainda precisavam testar o intestino. Com cinco dias, Luiz Miguel teve hemorragia craniana. Com 12, passou por cirurgia no esôfago e recebeu uma sonda no estômago. “Os médicos diziam que meu filho não aguentaria, mas ele não queria ir embora. Eu sentia que ele queria viver. A cada procedimento, a gente pedia a Deus que fizesse o melhor, e ele continuava vivo, agarrado no tubinho (de oxigênio).”
Com três meses, os exames acusaram quadro de hidrocefalia (excesso de líquido no cérebro) e ele precisou receber uma válvula na cabeça. “Até ele fazer 1 ano, foi uma luta diária.” A família toda alterou a rotina. Lívia teve de deixar o emprego em uma empresa e seu marido, o policial militar Lúcio Flávio Campos Filomeno, de 29 anos, conseguiu mudar o curso na escola da Polícia Militar, que fazia em São Paulo, para Campinas.
O segundo filho havia sido planejado, conta a mãe. Lavínia, então filha única do casal, estava com 6 anos e a família tinha se mudado para a casa própria. Com 27 semanas, a bolsa rompeu e Lívia foi internada no hospital de Pinhal para fazer a reposição do líquido amniótico (que envolve o feto), mas não conseguiu segurar o bebê e foi transferida às pressas para o hospital da PUC, onde ficou longos três anos e cinco meses.
Nova rotina
Em casa, a luta continua. O local foi adaptado para o recém-chegado e suas necessidades. O menino é assistido por uma equipe de home care com pediatra, enfermeiros, nutricionista, psicólogo e fisioterapeuta. A alimentação, um preparado lácteo, chega pela sonda gástrica. Luiz Miguel, que pesava quase 11 quilos ao deixar o hospital, engordou cerca de 500 gramas de lá para cá.
Graças a um extensor no tubo de oxigênio, o menino pode deixar o quarto, brincar na sala e no quintal e até chegar à calçada, onde já acena para os vizinhos e começa a interagir com Serena. “Ele observa e até brinca com as pessoas na rua”, conta o pai, que ontem ensinava o pequeno a descer do sofá. Até visita o menino já recebeu. No sábado passado, a equipe que cuidava de Luiz Miguel no hospital foi até a casa da família. “Deu para ver a alegria dele.”
Os pais fazem planos para quando ele não depender mais do tubo. “A parte neurológica está normal, então já pensamos nele fazendo natação com a Lavínia e indo para a escola”, sonha a mãe. A interação com a irmã surpreendeu os pais. “Se ele ouve a voz dela ou a vê, já começa a gritar”, conta Filomeno. Apegada, Lavínia se recusou a voltar para a escola depois das férias. “A psicóloga teve de conversar, porque ela queria ficar por perto. Eles estão se dando superbem.”
Ao lado da alegria de ter o filho em casa, surgem preocupações. Com a saída de Lívia do emprego, com ganho de R$ 1,1 mil por mês, a família passou a depender exclusivamente do salário de Filomeno, que trabalha como policial em Campinas e tem salário base de R$ 1.178. “Nossos custos aumentaram e ainda não conseguimos desconto na conta de energia, que vai subir em razão dos equipamentos médicos ligado 24 horas.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.