Mundo das Palavras

Benditos artistas de rua

Em São Paulo, havia antigamente um jornalista com uma proposta inédita para melhorar o estado de ânimo da população masculina brasileira obrigada a circular diariamente pelas ruas das nossas cidades. Sim, porque, nas ruas do país, as pessoas transitam em estados de ânimos contrastantes.  Infelizmente, quase sempre estão apreensivas ou irritadas nestes locais devido ao trânsito engarrafado e aos assaltos constantes. Apenas no Natal sentimos que alguém se preocupa em tornar amenas e agradáveis as caminhadas dos transeuntes. Isto porque os comerciantes precisam se empenhar para atrair mais clientes às suas lojas, naquele período. 
 
A proposta do jornalista prescindia destes esforços natalinos. Teria validade para o ano inteiro. Mas se ressentia de uma limitação: não contemplava as mulheres também obrigadas a saírem todos os dias de suas casas para cumprirem compromissos profissionais.
Dizia o jornalista: “Os prefeitos deviam contratar um bom número de moças bonitas, estabelecendo como jornada de trabalho delas um determinado número de horas diárias nas quais elas passeariam nos espaços públicos das cidades”. 
 
Do efeito benéfico desta proposta sobre os marmanjos ninguém certamente duvidará. Algo semelhante, porém, teria de ser criado para contemplar a outra metade da população.
 
Enquanto os prefeitos nada fazem, a relevante função de melhorar o estado psicológico de brasileiras e brasileiros que se deslocam no dia a dia em nossos espaços urbanos é exercida com generosidade, talento e coragem pelos artistas de rua. São equilibristas com poucos segundos para mostrar suas habilidades diante dos carros parados nos semáforos. São sanfoneiros que espalham por todas nossas regiões lembranças da cultura nordestina. São outros instrumentistas, às vezes, dotados de surpreendente virtuosismo. Em São Paulo, eles se concentram na Praça da Sé, na Rua 15 de Novembro, na Avenida Paulista, nos fins de semana. 
 
Foi, em Belém do Pará, no entanto, que surgiu uma novidade neste tipo de espetáculo benéfico a tanta gente. Uma jovem, de nome artístico bem humorado por remeter de maneira tropicalista ao antigo cinema italiano – Gina Lobrista – se veste com a dignidade de um artista de palco e com voz bem treinada se apresenta próximo do Mercado do Ver-o-Peso e na Praça da República, ambas antigas heranças amazônicas da Belle Époque, diante de um simples aparelho de som instalado numa bicicleta. A postura dela, suas roupas, e, sobretudo, seu clipe postado no youtube, com uma versão criativa da música “Eu estou apaixonada por você”, mostram seu desejo de oferecer em plena via pública a quem está estressado uma apresentação de arte popular bem cuidada e num nível de qualidade elevado.
 
Benditos sejam todos estes artistas de rua que procuram amenizar os efeitos sobre nós da incompetência dos gestores públicos.          
 
   
 

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