Estadão

Berlinale surpreende até os premiados e reafirma compromisso político

Havia, desde o começo, muita curiosidade e até desconfiança pelo que o júri presidido por Kristen Stewart poderia premiar no Festival de Berlim. Kristen é uma popstar. Há muito que deixou de ser a protagonista de <i>Crepúsculo</i>, e há algum tempo se exercita no cinema autoral (Olivier Assayas, Mia Hansen-Love, Pablo Larraín).

Kristen fez um discurso apaixonado no palco, no sábado, 25. "Às vezes alguns filmes vêm nos dizer coisas necessárias sobre o estado do mundo que vivemos. Não são filmes fáceis. Nos obrigam a compartilhar sentimentos, a ter empatia." E anunciou que o Urso de Ouro ia para <i>Sur L Adamant</i>.

Chamado ao palco, o diretor Nicolas Philibert não conseguia ocultar a surpresa. "Mas vocês estão loucos?", dirigiu-se ao júri. Justamente a loucura.

L Adamant é o nome do barco, ancorado no Sena, em Paris, que abriga um centro de acolhimento a pessoas com distúrbios mentais. No final, o diretor deixa o espectador com uma pergunta: Nesse mundo de ódio, até quando existirão pessoas assim, com seu olhar compassivo para a exclusão social e o sofrimento humano?

O interessante é que um dos documentaristas mais prestigiados hoje, Mark Cousins, integrava o júri especial que premiou o melhor doc. Philibert foi ignorado nesta categoria. Ganhou a mexicana Tatiana Huezo, por <i>El Eco</i>, sobre tradições numa comunidade fronteiriça.

É possível que a experiência de Kristen com autores franceses e a presença da atriz franco-iraniana Golshifteh Farahani no júri tenham influenciado as escolhas.

Houve mais um francês premiado, e Philippe Garrel ficou tão ou até mais surpreso do que Philibert. O júri justificou a escolha de <i>Le Grand Chariot</i> citando a juventude do cineasta de 74 anos. Eterno <i>nouvelle vague</i>, Garrel dedicou seu Urso de Prata a Godard, morto em 2022.

Stewart ajudou a entregar o prêmio de interpretação. Falou do que significa representar, em especial quando se é criança. Kristen sabia do que falava.

O prêmio foi para Sofia Otero, do longa espanhol <i>20.000 Espécies de Abelhas</i>, de Estibaliz Urresola Solaguren. A família da atriz de nove anos chorava copiosamente.

Foram dias intensos de um festival que começou com uma fala, em vídeo, de Zelenski agradecendo o apoio à Ucrânia e teve manifestações diárias em defesa das iranianas.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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