O primeiro contato de Sir Richard Armstrong com a ópera foi na adolescência, quando assistiu a O Barbeiro de Sevilha, de Rossini, interpretado por uma companhia itinerante. A lembrança daquele momento segue vívida. “Odiei aquilo com todas as minhas forças”, diverte-se o maestro, em seu camarim da Sala São Paulo. O tempo, no entanto, corrigiu aquela primeira impressão – e ele acabou desenvolvendo uma carreira intimamente ligada ao gênero.
Armstrong foi diretor da Welsh National Opera, da Scottish Opera e, na juventude, foi assistente, no Covent Garden, em Londres, de maestros como Georg Solti, Otto Klemperer, Carlo Maria Giulini e Rafael Kubelik. E está em São Paulo esta semana para comandar a Osesp em interpretações de A Danação de Fausto, de Berlioz, com elenco encabeçado pelo tenor Michael Spyres.
É uma obra de difícil classificação. O próprio Berlioz, ao adaptar o texto de Goethe, no fim dos anos 1840, chamou a Danação de “lenda dramática”. E, desde então, pesquisadores, críticos e músicos se perguntam: a obra seria ópera, concerto, cantata? “Na verdade, cada um tem sua maneira de ver. Há pessoas que, assistindo a uma versão em concerto, sentem falta de uma encenação. E tem gente que, perante uma montagem, teria preferido um concerto, sem cenários ou figurinos”, afirma Armstrong.
Para o maestro, isso pouco importa. Berlioz, afinal, em todas as suas peças – sejam óperas, sinfonias ou concertos -, revelou um enorme senso teatral. “Você ouve Berlioz e sabe imediatamente que se trata de uma obra dele. O fraseado, as melodias, o ritmo, a orquestração. E, em todas as suas obras, e a Danação não é exceção, ele coloca, dentro das notas, a possibilidade dramática.”
Nascido em Leicester (1943), Richard Armstrong é um entusiasta da música do compositor francês – e não está sozinho. Se houve, afinal, um processo de redescoberta de seu trabalho, ele se deveu principalmente a artistas britânicos e não franceses. “A primeira apresentação completa de Les Troyens foi em Glasgow, no início dos anos 1960”, afirma, lembrando que acadêmicos da época foram responsáveis pela edição da obra de Berlioz. “Já a Danação de Fausto, eu vi pela primeira vez em 1962, em Cambridge, com o maestro inglês Colin Davis.” Davis se tornaria, nas décadas seguintes, um “grande berlioziano”. “Foram episódios como esse que ajudaram a revelar Berlioz ao mundo.”