Na reunião com vários líderes e vice-líderes de partidos da base aliada, no Palácio do Planalto, nesta terça, 15, o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, reconheceu que a nova operação da Polícia Federal, que cumpriu 53 mandados de busca e apreensão, inclusive nas casas do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, em Brasília e no Rio, “atrapalha” os planos do governo de votar no Congresso medidas importantes para o Planalto. Também são alvo da operação dois ministros peemedebistas: Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia).
Mas, mesmo assim, segundo parlamentares presentes ao encontro, Berzoini pediu “empenho” de todos para a votação de propostas consideradas fundamentais para o Planalto, como a LDO e o PPA, que serão apreciadas nesta terça em sessão no Congresso, marcada para as 19 horas. Se estas duas propostas não forem votadas, o governo fica impedido, novamente, de fazer qualquer gasto no início do ano que vem.
Os parlamentares, neste momento, estão divididos em relação à intenção do governo em suspender o recesso parlamentar, que, teoricamente, começa na semana que vem. Para que o Planalto consiga anuência dos líderes, de acordo com as conversas mantidas entre eles, seria necessária, pelo menos, uma parada para o Natal e Ano Novo e as duas primeiras semanas de janeiro. Caso contrário, não haverá concordância. Neste caso, a própria presidente Dilma Rousseff teria de fazer a convocação extraordinária.
Renan
A esperança do governo é que como a sessão que votará o PPA e a LDO é do Congresso (Câmara e Senado) e não apenas da Câmara dos Deputados, que ela possa ser conduzida pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, sem maiores problemas. Mas, de qualquer forma, o Planalto sabe das dificuldades porque a operação da PF atingiu em cheio inclusive fortes aliados do Planalto. Daí toda a preocupação e cautela em tratar deste assunto.
Na reunião de líderes, Berzoini pediu ainda que os parlamentares governistas conversem com a oposição para tentar destravar as pautas que classificam como importantes para o País. Líderes governistas não veem clima para a realização de sessão da Câmara nesta terça, conduzida por Eduardo Cunha, embora não descartem que ele, com o comportamento que tem demonstrado, faça questão de comandar os trabalhos.
O novo líder do PMDB, Leonardo Quintão, que entrou no lugar de Leonardo Picciani – que apoia o governo, mas foi deposto pela ala liderada pelo vice-presidente Michel Temer – participou pela primeira vez da reunião de líderes. Temer e Dilma mantêm, no momento, apenas relações protocolares.
Segundo um dos presentes, Quintão, apesar de não ser governista, se mostrou colaborativo. Disse que o PMDB está disposto a limpar a pauta, votando o que é mais importante e mais urgente. Ele disse que o partido estaria disposto a comparecer para votar inclusive na semana que vem, semana do Natal, para ajudar a destravar a pauta.
Temer
Nesta quarta-feira, 16, Michel Temer, que trabalhou para derrubar Picciani e colocar Quintão no seu lugar, na liderança do PMDB, convocou uma reunião da liderança do partido para impedir que a entrada de parlamentares considerados “oportunistas” na legenda. O PMDB de Temer ameaça ainda romper com o governo, antecipando a convenção do partido de março para janeiro.
O governo, por sua vez, tenta trazer parlamentares do PR e outros partidos pro PMDB, para garantir o controle sobre parte do partido não só em votações de projetos importantes para o governo, mas também para impedir a abertura do seu processo de impeachment, provocando numa guerra declarada ao Planalto.
O clima do Planalto com o PMDB que já estava péssimo, ficou ainda pior com a nova fase da Operação da PF que promoveu busca e apreensão na casa de dois ministros e inúmeros aliados. Há um clima de tensão no Planalto e tudo é acompanhado com muita cautela. Apesar de o Planalto não falar em afastar os ministros que tiveram suas residências como alvo da operação de busca e apreensão da PF, a situação é delicada. Esses ministros se tornarão mais um foco de desgaste para a presidente e seu governo.
Por isso, já há quem defenda que a presidente repense se eles devem mesmo permanecer nos cargos. Pansera é ligado a Cunha e Henrique Alves, a Temer. Os dois estão rompidos com o governo. O problema deste tipo de atitude é que agravaria o clima de instabilidade no governo, que já é grande.