O poeta alemão, de origem judaica, Christian Johann Heinrich Heine morreu sem saber que, com uma única frase, ele havia anunciado o que iria ocorrer no país dele, 77 anos depois, como desdobramento do destino dado a seus livros e a de outros intelectuais também descendentes de membros do mesmo grupo étnico e religioso. Entre os quais Thomas Mann, Walter Benjamin, Bertold Brecht, Erich Maria Remarque, Sigmund Freud, Albert Einstein e Karl Marx.
Heine morreu em 1856. Havia dito que “onde se queimam livros, acaba-se queimando pessoas”. Em 1933, na pátria dele, foram queimados, em praça pública, livros escritos por ele e aqueles outros autores, a mando dos representantes do governo nazista. Que, depois, mataria 6 milhões de pessoas em fornos crematórios.
Entre os livros incinerado de Heine havia um ligado ao Brasil. Em “Das Sklavenschiff”, poema concluído em 1854, portanto dois anos antes da morte do poeta. Nele, Heine trata de negros aprisionados na África, e, transportados, como escravos, num navio, para o Rio de Janeiro. Temática apropriada, cinco anos mais tarde, por Castro Alves, num poema com o mesmo título do de Heine, traduzido: “O Navio Negreiro”.
À queima de livros, em maio e junho de 1933 – um ritual tenebroso de culto ao ódio à liberdade de pensamento e criação, próprio dos regimes totalitários -, ficaria para sempre associada a peça de um poeta e dramaturgo nazista, Hanns Johst, intitulada “Schlageter”. Na qual, um personagem, estudante, declara: “Quando ouço falar em cultura, saco logo meu revólver”.
O “Navio Negreiro” de Castro Alves nunca foi queimado em praça pública, no Brasil. Mas, durante a Ditadura Militar Pós-1964, aconteceu algo pior. O livro de outro poeta, Reynaldo Jardim, escrito em homenagem a Maria Bethania, teve seus exemplares confiscados pelo Governo Militar. Reynaldo foi preso. E a cantora, supreendida com a invasão de seu apartamento por 20 policiais. Depois, ela foi levada para a sede do DOPS, centro de tortura a presos políticos, onde a submeteram a longo interrogatório. Durante três meses, Bethânia ficou obrigada a se apresentar no DOPS, duas vezes por semana. meses.
Ela, era, então, uma jovem de 22 anos de idade. Reynaldo escreveu “Maria Bethânia, Guerreira, Guerrilheira”, após conhecê-la como simples espectador de teatro.
Hoje, no Youtube há uma antiga entrevista dada pela cantora à Marília Gabriela, em que, Bethânia conta como, já abalada pelo exílio do irmão, Caetano Veloso, e, pelo abatimento profundo causado em seu pai, ela entrou em depressão. Tomou doses crescentes de tranquilizantes, atéser conduzida para um hospital, desacordada, onde sofreu lavagem estomacal. Seus amigos acharam que ela havia tentado se matar.