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Better Call Saul estreia no Netflix

Falar em tom de brincadeira sobre um spin-off baseado no personagem Saul Goodman era muito comum no set de Breaking Bad. Pois a brincadeira virou realidade, um ano e quatro meses depois do encerramento da série criada por Vince Gilligan e considerada uma das melhores da história. O primeiro episódio de Better Call Saul já está no ar na Netflix, menos de 24 horas depois de estrear no canal americano AMC. Nesta terça-feira, 10, também às 5h, o segundo episódio fica disponível no site. Do terceiro em diante, a primeira exibição é sempre na terça, às 5h.

Better Call Saul, criado por Gilligan em parceria com Peter Gould, volta seis anos no tempo para contar as origens do advogado de ética duvidosa interpretado por Bob Odenkirk. Aqui, ele ainda é Jimmy McGill – como ele diz de cara para Walter White (Bryan Cranston) em Breaking Bad. Saul Goodman é um personagem que criou para conseguir mais clientes. “Jimmy McGill quer ser bom”, disse Gilligan em entrevista em Los Angeles. “A questão é por que ele quer ser bom. Será que está indo contra sua própria natureza?” Peter Gould completou: “Normalmente na ficção, a bondade sempre termina num final feliz. Comportar-se eticamente sempre dá bons resultados, quando a gente sabe que, na vida, muitas vezes ser ético não rende fruto nenhum.”

McGill está numa fase difícil, sem dinheiro e tendo de ajudar o irmão mais velho, Chuck (Michael McKean), um advogado brilhante que está doente. “Em Breaking Bad, interpretei uma parte de uma pessoa, sua face pública”, afirmou Bob Odenkirk. “Em Better Call Saul, eu o interpreto em casa, nos bastidores.
Pessoalmente, me identifico muito mais com Jimmy do que com Saul.”

Para o ator, não existiu hesitação em aceitar o papel. “Sempre disse para o Vince Gilligan que, se ele fizesse, claro que eu diria sim. Quem não diria sim?”, disse. “E, se era esse projeto que empolgava Vince, ele tinha mais é que fazer mesmo.”

Gilligan e Gould sabem que é um grande risco fazer de seu primeiro trabalho depois da icônica Breaking Bad um spin-off da série. “A melhor maneira de lidar com isso é admitir a verdade fundamental: é quase impossível, se não impossível, fazer algo tão bom quanto”, disse Gilligan. “Nossa abordagem é: amamos essa história que estamos contando? E nossa resposta, estou feliz de dizer, é: sim, amamos. Mal podemos esperar para as pessoas assistirem. Mas, sim, é possível que elas odeiem.”

Better Call Saul tem, claro, o mesmo DNA que Breaking Bad. “Vince Gilligan e Peter Gould fazem uma psicanálise dos personagens, com boa estrutura, pontos de virada e cliffhangers (exposição do personagem a uma situação limite)”, disse Odenkirk. A nova série também vai e volta no tempo – inclusive, para depois do fim de Breaking Bad. “Outra semelhança é que quem presta realmente atenção ao seriado vai ser recompensado. Há muitos detalhes”, explicou Gilligan. Além de Jimmy/Saul, outros personagens de Breaking Bad aparecem, como Mike (Jonathan Banks). E existe abertura para outras participações. Os produtores e roteiristas só avisaram que nem Walter White nem Jesse (Aaron Paul) vão aparecer nesta primeira temporada.

A proximidade para por aí. Better Call Saul, até pela natureza do personagem, um sujeito muito mais ebuliente (e saudável) do que o paciente terminal de câncer Walter White, é mais cômica. Nem tanto quanto os criadores esperavam no começo, quando chegaram a cogitar a fazer uma comédia de 30 minutos, em vez do que virou, um drama de uma hora. O Estado assistiu aos dois primeiros episódios e notou que o ritmo é mais lento e mais enigmático do que Breaking Bad. “Walter White tinha um problema muito existencial e imediato. Ele estava morrendo de câncer. Não sabia quanto tempo de vida ia ter, então achamos que precisava ser uma narrativa acelerada”, disse Gilligan.

Better Call Saul também se passa em Albuquerque, no Novo México, mas é uma Albuquerque diferente, mais de interiores. A câmera tende a ser mais estática do que na série anterior, que tinha muita câmera na mão. Gilligan, que dirigiu o piloto de ambas, contou que a inspiração para Breaking Bad foram filmes como Operação França, de William Friedkin, enquanto Better Call Saul foi mais baseada em Bernardo Bertolucci, principalmente na composição dos quadros. “Nós vemos as séries como filmes”, disse Peter Gould. Há muitas cenas sem diálogos, além de uma sequência inteira em preto e branco que, ao contrário da convenção, se passa no futuro. Segundo Vince Gilligan, seu instinto é sempre tentar mostrar coisas que não foram vistas antes – mesmo num spin-off. Não se pode acusá-lo de ser covarde. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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