A primeira ousadia de Bibi Ferreira – participar de um show apenas com músicas eternizadas por Frank Sinatra – será seguida de outra: levar o espetáculo para os Estados Unidos. “Estamos planejando apresentações em Las Vegas e Nova York, no final do ano que vem”, comenta Bibi, que cantou duas vezes em solo americano no ano passado, quando foi aplaudida em pé por três vezes.
Tais concertos fazem parte de uma estratégia de internacionalização da figura de Bibi, que ganha corpo ainda neste ano: até o Natal, a rede de livrarias Barnes & Nobles deverá oferecer dois CDs (Bibi, Histórias e Canções e Brasileiro, Profissão Esperança) e uma biografia da cantora brasileira escrita em inglês. “Ela será apresentada como the new Brazilian Bombshell”, conta Nilson Raman, seu empresário há mais de 20 anos, repetindo a forma como Carmen Miranda ficou conhecida em Hollywood.
O passo decisivo, no entanto, será o show com canções de Sinatra – em outubro, duas apresentações no Teatro Renaissance serão gravadas em vídeo, para um DVD que será lançado no Brasil até o fim do ano, juntamente com um box de CDs com sete discos. Os produtos também deverão chegar aos Estados Unidos.
A facilidade com o idioma é uma vantagem. Fluente em inglês por ter sido educada em escola britânica no Rio, ela podia entender os diálogos e as letras das músicas dos filmes americanos que assistia e, mais tarde, lhe deram sucesso no teatro de revista.
Nesse período também, descobriu a qualidade das canções interpretadas por Sinatra. “Ele sabia escolher músicas com versos muito bons, apurados, que se adequavam bem à sua voz”, observa ela que, ao montar o repertório de seu show, partiu de um princípio elementar: “Escolhi as que mais gosto e, claro, as que consigo cantar”, explica. “Sinatra tinha uma seleção mais propícia à voz masculina, o que impõe desafios. Ive Got You Under My Skin, por exemplo, de Cole Porter, é uma das mais difíceis de se cantar. Quase que a tirei da seleção.”
Em outros casos, pesou a preferência pessoal. Strangers in the Night (Bert Kaempfert/Charles Singleton/Eddie Snyder) é a canção que abre o show, mas apenas no formato instrumental. “O motivo é que detesto essa música, não gosto mesmo, mas descobri, por livros, que Sinatra também não gostava. Então, satisfeita com essa revelação, eu a coloquei na versão com instrumentos, assim não preciso cantar.”
No lado oposto, Bibi classifica Thats Life (Kelly Gordon/Dean Kay) como a sua preferida. O motivo é simples: é uma canção que a libera para também representar no palco. E sua apresentação acontece em um momento específico do show, ou seja, quando falta um terço para terminar. “É um lugar perigoso. Ali tem que haver um agudo, uma música muito importante, pois, se o show está decaindo, é a chance para reerguê-lo”, ensina.
Com 73 anos de carreira, Bibi encara o projeto como mais um desafio. “Nos anos 1960, quando produtores buscavam a protagonista para o musical Minha Adorável Dama, eu aceitei e ficamos dois anos em cartaz”, relembra, com orgulho.
“Interpretei ainda Aldonza, de O Homem de La Mancha, mas não é um papel que me encanta, pois suas canções são muito românticas, apaixonadas demais, e eu gosto de algo mais ritmado.”
Corajosa, porém prudente – apesar de idolatrar Judy Garland, Bibi não se sente confortável em interpretar publicamente suas canções. “Fazer um show em homenagem a Judy exigiria muita responsabilidade”, comenta. “É mais fácil uma mulher cantar Sinatra que Judy Garland. A questão está na tessitura da voz, ou seja, mesmo não cantando bem as músicas dele, é possível relevar. Agora, as de Judy, não cantando bem, qualquer uma se dana.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.