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Biblioteca portuguesa de Belém pede apoio

Mais de 400 volumes de obras raras. Difíceis de encontrar em qualquer lugar do mundo. Livros do século 16, escritos em latim. Religião, história e cultura em milhões de páginas prensadas em papel de trapo. Vieram da Europa há mais de 100 anos, relíquias trazidas por portugueses que se estabeleceram em Belém do Grão-Pará, hoje a capital paraense, Belém.

A cidade abriga a biblioteca Fran Paxeco, patrimônio do Grêmio Literário Recreativo Português (GLRP), um clube local criado por imigrantes portugueses há 148 anos. Ao todo, são aproximadamente 35 mil itens entre periódicos, livros e manuscritos. É possível encontrar várias edições da Bíblia, um livro de Maquiavel e a coleção mais completa do mundo das obras de Camilo Castelo Branco, que inclui a primeira edição do clássico Amor de Perdição.

Para a bibliotecária Nazaré Góes, trabalhar rodeada desses títulos é uma viagem no tempo. “Estou há 23 anos aqui e tudo me remete ao passado. Infelizmente, desde que entrei obras já se perderam, mas o que temos hoje é um tesouro. Aqui sei que consigo um mundo de informações que podem ajudar muita gente. Recebemos pessoas de outros países, vez ou outra, para fazer pesquisas. Eles conhecem mais esse lugar do que quem mora aqui”, comenta.

Mas cuidar dos valorosos livros dá bastante trabalho e há três meses Nazaré ganhou o reforço da bibliotecária Ellen Rodrigues. “Quando entrei me encantei, não fazia ideia do quanto de história temos guardado. Os mais antigos em latim ainda, com temas religiosos. Muitos livros encadernados juntos. Já achei 16 livros em um volume só. Os manuscritos também são incríveis, são correspondências entre a população daqui e o governo português, no tempo do Brasil Colônia, que falam já do medo da nossa famosa Revolução Cabana”, conta.

Há um livro chamado Philia, de 1528, todo escrito em latim, que não foi encontrado em nenhuma das pesquisas bibliográficas realizadas pelas bibliotecárias, e a probabilidade de ser único no mundo é grande.

Mas, para guardar tantas raridades, é preciso investimento. “É o que estamos buscando hoje, apoio para garantir que essas obras sejam restauradas. Adequar essa biblioteca requer um alto investimento, mas é necessário porque resgatar essa biblioteca é resgatar a cultura portuguesa e brasileira também. Isso significa um resgate histórico e cultural”, afirma o presidente da Diretoria Executiva do GLRP, Mário Paiva.

A biblioteca é o terceiro mais antigo gabinete de leitura portuguesa do Brasil. Antes dele foram abertos um no Rio e outro na Bahia. Atualmente, a Associação dos Amigos dos Arquivos Públicos do Pará (Arquipep) faz um trabalho inicial de conservação. “Já há um projeto para buscar o selo da Lei Rouanet no Ministério da Cultura, que estamos aguardando aprovação. Ele é para conseguirmos incentivo financeiro e recuperar as obras raras, a Coleção Camiliana e alguns periódicos. Além de recuperar, faremos conservação, acondicionamento, climatização, digitalização e proporcionaremos o acesso do material online. Mas de fato a biblioteca inteira é um tesouro que precisa de cuidados”, explica a diretora executiva da Arquipep, especialista em preservação de patrimônio, Ethel Valentina Soares.

A historiadora da associação, Loren Rendeiro, vem trabalhando no restauro de alguns manuscritos. “Estamos trabalhando ainda apenas com os manuscritos. Naquela época se escrevia com uma tinta metaloácida, que com o tempo entra em oxidação, enferruja mesmo. É um trabalho cuidadoso, que leva tempo. Algumas páginas foram destruídas por insetos e então precisamos fazer nivelamento, preenchimento com papel japonês para dar sustentação. É um serviço muito bonito de recuperação da história que não podemos deixar de lado, a nossa”, diz.

O projeto custa cerca de R$ 2,8 milhões e tem previsão para ser executado em três anos e meio. “O acervo dessa biblioteca é valioso, existe um livro aqui que eu considero inestimável, mas não revelo o nome. Temos uma parte interessantíssima da História do Brasil em nossas mãos, livros portuários, registros da entrada dos judeus marroquinos, livros do berço das artes gráficas, encadernações raras, cartas, jornais, revistas. Tudo precisa ser muito bem conservado para não deixarmos o tempo destruir esses bens. Aliás, o tempo tem sido generoso por manter ainda em bom estado a maioria dessas obras”, completa Ethel.

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