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Bicampeão olímpico, Scheidt quer aumentar coleção de medalhas em Tóquio

Dono de cinco pódios olímpicos, Robert Scheidt chega à sua sétima edição dos Jogos de Tóquio como um veterano que conseguiu compensar com técnica e esforço as dificuldades físicas que o tempo impõe sobre o corpo. Com currículo invejável, ele não tem mais nada para provar: é bicampeão olímpico, tem ainda duas medalhas de prata e uma de bronze, já foi porta-bandeira (em Sydney-2000) e tem 13 títulos mundiais. Na classe Laser, que começou na madrugada deste domingo pelo horário de Brasília, o atleta multicampeão vai tentar fazer história nos Jogos de Tóquio com mais um pódio na carreira.

<b>Como está a expectativa para a disputa dos Jogos Olímpicos?</b>
Estou feliz pela oportunidade de representar o Brasil mais uma vez e chegar à sétima Olimpíada. E a expectativa é lutar por uma medalha. O que me motiva é a paixão pelo esporte. Não só velejar, mas competir, testar meus limites.

<b>Como você compara essa campanha com as suas anteriores?</b>
Toda Olimpíada carrega bastante ansiedade, seja na primeira ou na sétima. E isso não vai mudar. Eu quero muito lutar por uma medalha, representar bem o meu país mais uma vez e, com certeza, não vou conseguir escapar da ansiedade, mas sou experiente e capaz de controlá-la para que não atrapalhe.

<b>Nesta edição as dificuldades estão maiores?</b>
Cada campanha tem sua história. Nesse ciclo até Tóquio, tivemos a pandemia, o adiamento e estou mais velho. Além disso, falando do Laser, o mastro mudou. A parte de baixo é de alumínio e a parte de cima passou a ser de carbono. Isso acrescentou dureza ao mastro. E a vela mudou também, aumentando a potência do barco e o deixando ainda mais difícil de controlar nos ventos fortes. Hoje, exige mais escora. O peso dos atletas também aumentou. No Rio, o ideal era 80 kg, agora é 84 kg a 85 kg. Eu consegui me adaptar, ganhei massa magra e estou com 84 kg, perto do ideal.

<b>E na parte técnica, houve alguma alteração?</b>
A técnica de velejar mudou um pouco, principalmente no vento em popa. Para ser bem sincero, em 2019, quando voltei para a classe, demorei para me adaptar e tive dificuldade em performar no popa, que sempre foi meu forte. Mas, com muito trabalho e "horas de voo", comecei a melhorar minha técnica e estou cada vez mais confortável.

<b>Você sempre comentou que a classe Laser é muito física. Aos 48 anos, como compensou isso para velejar em alto nível?</b>
Com a chegada da idade, o principal ponto passa a ser o tempo de recuperação e o maior risco de lesão. Equilíbrio entre a quantidade e a qualidade do treinamento é fundamental. Se antes, com 20 ou 30 anos, minha filosofia era fazer mais que os outros para que o resultado viesse como consequência, hoje não consigo mais fazer dessa forma, porque vou acabar me machucando e isso é contraproducente. Então meu volume de trabalho é bem menor que antes, mas com qualidade e intensidade maior. Essa é a grande mudança. Também é preciso saber escutar o corpo, quando ele precisa de descanso ou está prestes a se lesionar.

<b>Quais as características que te levaram a se dedicar mais a esta classe?</b>
O Laser é um barco que casou perfeitamente com o meu biotipo e estilo de velejar. Exige muito da forma física do atleta, da sua força e resistência. Costumo dizer que sempre terei um Laser para dar minhas voltas, pois traz aquela sensação da velejada pura. Mas eu realmente só voltei para o Laser em Olimpíadas, no caso do Rio-2016, porque o Star foi retirado do programa.

<b>Quais são seus principais adversários na briga pela medalha?</b>
Um dos nomes mais fortes é o alemão Philipp Buhl, que é o atual campeão mundial e venceu em Vilamoura com um ponto a mais do que eu. Ele está em uma fase boa e, aos 30 anos, é experiente. Em relação aos outros nomes, temos o Matt Wearn, da Austrália, e o Sam Meech, da Nova Zelândia. Mas ainda é uma incógnita como eles chegarão a Tóquio. Eles treinaram isolados em seus países e não tive oportunidade de velejar contra eles em 2021. Só tive contato com os atletas norte-americanos, europeus e sul-americanos. Além desses, velejadores da Croácia, Chipre e França, no caso o Jean Baptist Bernaz, que é meu companheiro de treino, são nomes fortes.

<b>Então a disputa por um lugar no pódio deve ser bem acirrada?</b>
Acredito que teremos de dez a 12 atletas lutando pelas três medalhas e acho que estou entre eles. A classe Laser é muito forte, com uma grande representatividade no mundo e é a classe na qual o velejador faz a diferença. Na Olimpíada, todo o material é fornecido pela organização – vela, mastro e barco – então, o que conta é a maneira como se veleja, as escolhas táticas.

<b>Como é a baía de Enoshima e como você se preparou para entender bem a dinâmica dela?</b>
A raia em Enoshima não tem predominância de uma condição e tem de estar pronto para o que vier, pois pode mudar de tempo, de vento fraco a forte. Serão seis dias de competição e, naturalmente, vai haver variação no clima. E isso me favorece. Sou um velejador que cobre bem tanto vento forte como fraco. Então, seria mesmo bom que não tivéssemos a mesma condição a semana toda. O ideal seria ter ido ao local de competição muitas vezes para se adaptar à raia, ao vento, ao mar, mas isso não foi possível em função da pandemia do coronavírus. Eu acredito que chegar em cima da hora, em um evento de grande pressão, pode ser um ponto a meu favor. Eu já passei por muitas situações em seis Olimpíadas, pois o lado mental, a calma, a tranquilidade em função de ter vivido muitas coisas, pode me ajudar em um torneio em que esse reconhecimento do local da disputa não pôde ser explorado.

<b>Qual sua meta para Tóquio?</b>
A meta é sempre buscar uma medalha. Claro que o principal objetivo é o ouro, mas uma medalha olímpica é sempre algo especial, independentemente da cor.

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