Brasil e EUA abriram a Assembleia-Geral da ONU nesta terça-feira, 19. Como de costume, o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva foi o primeiro a discursar, seguido do americano Joe Biden. Os dois apresentaram posições divergentes sobre o tema principal do encontro: a guerra na Ucrânia. Enquanto Biden criticou abertamente a Rússia, Lula tentou manter uma certa neutralidade.
Lula não citou diretamente a Rússia nem Vladimir Putin e mencionou outros conflitos mundiais para reforçar que "nenhuma solução será duradoura se não for pautada em diálogo". "A guerra na Ucrânia escancara a incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU", disse Lula.
Já Biden foi enfático em defesa da Ucrânia e afirmou que os russos são os únicos culpados pela guerra, destacando que nenhum país estará seguro se os princípios da ONU forem violados para "apaziguar" a Rússia. "Devemos enfrentar esta agressão flagrante hoje para dissuadir outros possíveis agressores amanhã", afirmou o americano.
<b>Agenda comum</b>
Biden e Lula terão nesta quarta, 20, uma oportunidade de reduzir suas diferenças sobre a guerra na Ucrânia em uma reunião fechada entre os dois em Nova York. No entanto, nem tudo no encontro bilateral será desentendimento. Brasil e EUA têm vários pontos em comum em suas agendas de política externa, como ficou claro ontem na disposição dos dois presidentes.
Lula aproveitou o discurso, seu oitavo na ONU, para recolocar o Brasil como líder na luta contra o aquecimento global. "Hoje, a questão climática bate às nossas portas", disse. "E impõe perdas e sofrimentos, sobretudo aos mais pobres."
O presidente brasileiro criticou também a representatividade da ONU, se juntando ao coro internacional que pede uma reforma de suas instituições. "O Conselho de Segurança vem perdendo progressivamente sua credibilidade", afirmou Lula. "Sua paralisia é a prova mais eloquente da necessidade e da urgência de reformá-lo."
Biden, que discursou logo em seguida, concordou com Lula em vários aspectos. Ele pediu cooperação para superar a crise climática e também defendeu uma reforma no Conselho de Segurança. "É preciso superar o impasse que paralisa o conselho", afirmou o americano. "Precisamos de mais vozes."
<b>Volta</b>
Lula, que voltou à ONU após 14 anos, fez um discurso de 21 minutos em defesa do multilateralismo, anunciando que o Brasil está de volta para contribuir com o enfrentamento dos principais desafios globais. "Resgatamos o universalismo da nossa política externa, marcada por diálogo respeitoso com todos", disse o brasileiro.
<b>Zelenski</b>
Outro momento bastante aguardado na abertura da Assembleia-Geral foi o discurso do presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski – a primeira vez que ele fala presencialmente na ONU desde que seu país foi invadido pela Rússia, em fevereiro de 2022.
Zelenski tentou retratar a agressão russa como uma ameaça que não se restringe à Ucrânia. "O objetivo da guerra é transformar nossa terra, nosso povo, nossas vidas, nossos recursos em um ataque à ordem internacional com base em regras", afirmou. "A Rússia está transformando em armas bens essenciais, como alimentos e energia, não só contra nosso país, mas contra todos vocês."
Zelenski conseguiu duas reuniões importantes à margem da Assembleia-Geral da ONU. Ele se encontrará hoje com Biden e Lula, separadamente. O encontro entre os presidentes de Brasil e Ucrânia deveria ter acontecido na cúpula do G-7, no Japão, em maio. Na ocasião, segundo Lula, Zelenski não apareceu. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>