Em meio ao acirramento das tensões no estreito de Taiwan – faixa de mar que separa a China continental da ilha do Pacífico – após o aumento das atividades militares chinesas no local, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que ele e o presidente chinês, Xi Jinping, conversaram e concordaram em cumprir o "acordo de Taiwan", em referência à política de longa data de Washington que reconhece oficialmente Pequim em vez de Taipé, e à Lei de Relações com Taiwan, que deixa claro que a decisão de manter laços diplomáticos com a China em vez de Taiwan depende da expectativa de que o futuro do país será determinada por meios pacíficos.
"Falei com Xi sobre Taiwan. Nós concordamos… respeitaremos o acordo de Taiwan", declarou Biden a repórteres na Casa Branca na terça-feira, 5, após retornar de uma viagem a Michigan. O presidente completou: "nós deixamos claro que eu não acho que ele deveria estar fazendo outra coisa que não cumprir o acordo".
Embora o acordo de Taiwan obrigue Washington a reconhecer a posição da China de que a ilha pertence a ela e de que existe apenas "uma China", impedindo um posicionamento sobre a soberania do país, os americanos continuam a fornecer os meios de defesa a Taipé.
Após a declaração de Biden, o Ministério das Relações Exteriores de Taiwan disse que buscou esclarecimentos dos Estados Unidos sobre os comentários e foi assegurado que a política dos EUA em relação ao país não mudou, que o compromisso entre as nações era "sólido como uma rocha" e que os americanos continuarão a ajudar Taiwan a manter suas defesas.
"Enfrentando as ameaças militares, diplomáticas e econômicas do governo chinês, Taiwan e os Estados Unidos sempre mantiveram canais de comunicação próximos e tranquilos", disse o ministério em comunicado.
<b>Pronta para invasão</b>
A escalada de tensões na região foi classificada como "a situação mais sombria em 40 anos" pelo ministro da Defesa de Taiwan, Chiu Kuo-cheng, durante discurso ao Parlamento. Durante entrevista ao <i>China Times</i> nesta quarta-feira, 6, Chiu disse que a China já é capaz, mas estará completamente preparada para invadir o país em três anos. "Em 2025, a China reduzirá o custo e o desgaste ao mínimo. Tem capacidade agora, mas não vai começar uma guerra facilmente, tendo que levar muitas outras coisas em consideração", disse.
As pressões sobre Taiwan ocorrem em um momento em que as relações entre China e Estados Unidos (e seus aliados da Otan e no Pacífico) vem se acirrando rapidamente, com as movimentações americanas no Indo-Pacífico. Após atividades militares americanas com o Japão e o anúncio da parceria, junto ao Reino Unido, para fornecer submarinos nucleares à Austrália, os chineses realizaram atividades militares com cerca de 150 aeronaves sobrevoando o setor sul do estreito que divide os dois países, dentro da Zona de Identificação de Defesa Aérea – oficialmente espaço aéreo internacional, mas reivindicado por Taipé como área de segurança nacional.
Embora a China não tenha dado uma explicação oficial para o número crescente de jatos voando perto de Taiwan, o grupo estatal China Media Group justificou as missões como uma "contramedida necessária" ao que chamou de "conluio" entre os Estados Unidos e Taiwan.
Em meio a este cenário, a visita de um grupo de senadores franceses a Taiwan surge como novo componente internacional na "disputa". O grupo, que deve permanecer no país por cinco dias, é liderado pelo senador Alain Richard, ex-ministro da Defesa da França, e terá reuniões com a presidente Tsai Ing-wen, com autoridades econômicas e de saúde e com o Conselho de Assuntos do Continente.
A China tentou desencorajar a visita dos senadores franceses, com sua embaixada na França dizendo antes da viagem: "Isso não só prejudicará os interesses centrais da China e minará as relações China-França, mas também prejudicará a própria reputação e interesses da França."
China e Taiwan se separaram em meio à guerra civil em 1949. Hoje, têm extensos laços comerciais e de investimento, mas nenhuma relação oficial. O impasse envolvendo os dois países é que, enquanto Pequim reivindica a ilha como parte de seu território – que deve ser tomado à força, se necessário – Taipé defende a ideia de um país independente, e diz que defenderá suas liberdades e democracia, culpando a China pelas tensões cada vez maiores nas frentes militar, diplomática e econômica. (Com agências internacionais).