"Eu gosto que o erro esteja presente (no nosso trabalho), o erro é importante para eu pensar", conta a artista plástica portuguesa Gabriela Albergaria, sobre o conselho que recebeu de Paula Rego, uma das principais pintoras portuguesas, morta este ano. Albergaria, que estuda a flora, falou na Bienal do Livro de São Paulo sobre a influência das plantas em seu trabalho, esculturas que emulam a natureza a partir de seus fragmentos, como troncos frondosos que chegam a ocupar salas inteiras. Seu trabalho fotográfico documenta a poesia das florestas, a aleatoriedade da vida brotando do solo, matéria de poesia que norteou a edição passada da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip.
Albergaria se juntou ao curador João Fernandes na mesa Para Entender a Floresta, assunto necessário para pensar o momento de urgência ambiental que vivemos, com crise na Amazônia, queimadas e ameaças constantes ao meio ambiente. Ela contou do trabalho que tem feito em parceria com biólogos e pesquisadores, para ler e interpretar a floresta a partir da intervenção da arte. Defendeu a floresta como um organismo vivo e pensante, proposta que integra seu repertório a partir de narrativas vegetais (ela usa fragmentos de árvores, plantas, caules para contar a história da floresta) sobre resistência.
A artista também falou de memória, do esmero e importância em respeitar culturas regionais, ressaltou o valor das narrativas indígenas e a presença frutífera de tribos na conservação de territórios.
<b>Multidisciplinar</b>
Gabriela Albergaria mistura elementos da escultura, desenho e fotografia em suas obras. Radicada em Berlim, ela ressalta a importância da natureza na paisagem urbana, suas obras questionam essa relação de desarmonia e interdependência dos espaços, além de demarcarem a presença vegetal no concreto. Essa incerteza, ressaltada na frase de Rego, é o clima que permeia a relação entre a cidade e o homem. O colapso ambiental pode resultar de uma sequência de erros dos homens, mas a salvação, também.
<b>Abertura</b>
Cosplayers, punks e até uma menina vestida de barbie girl. Personagens irresistíveis para se agruparem juntos em uma fila quilométrica. São Paulo, quase trinta graus, os transeuntes se acotovelam na fila do busão gratuito a caminho da Expo Center Norte, onde acontece a 26ª edição da Bienal do Livro de São Paulo.
Na saída do Terminal Rodoviário do Tietê, vãs clandestinas cobram R$ 5 com os condutores. Nessa altura, a maquiagem das meninas que esperam o transporte lotar derretem, leques espalhafatosos se abrem para abafar o calor. "Tá babado essa bienal, vou chamar um Uber". Só que está muito caro, adverte a colega de fila.
Da saída do Tietê, os ônibus saem rápido, enchem em instantes. Dez minutos é o tempo máximo entre embarcar no fretado free ao estacionamento do pavilhão. Em frente ao Expo Center Norte, um formigueiro enlouquecido se esparrama pela calçada. Todos os sotaques se misturam em uma polifonia de R s. Tem gente de Pirapora, do Rio, Recife, e gente que não tem ingresso.
<b>Serviço</b>
<b>Bienal Internacional do Livro de São Paulo</b>
– De 2 a 10 de julho, das 2ª a 6ª, das 9h às 22h, e sábado e domingo, das 10h às 22h. A entrada é autorizada até as 21h.
– Expo Center Norte (Rua José Bernardo Pinto, 333 – Vila Guilherme).
– Ingressos: R$ 30.