Em que galáxia distante Roland Emmerich andou nos últimos 20 anos? Perdido na pré-história do homem (10.000 Anos a.C.), batalhas estelares (Independence Day) e todo tipo de desastre ecológico (O Dia Depois de Amanhã, 2012), ele pode até ter incursionado pelo mundo real (O Ataque) – bem, em termos -, mas com certeza refugiou-se em suas fantasias. Independence Day – O Ressurgimento, que estreia nesta quinta, 23, em salas de todo o Brasil – e o ator Bill Pullman está no País, prestigiando a estreia -, começa com a celebração dos 20 anos do primeiro filme. Você se lembra. Sob o liderança do presidente Bill Pullman (ele!) e do piloto Will Smith, a humanidade conseguiu vencer os ETs do mal, instituindo o 4 de julho como data da redenção da humanidade. Assimilando a tecnologia de ponta dos alienígenas, a Terra ingressou numa era de paz e prosperidade.
Nada de 11 de Setembro, terror, etc. E é nesse clima (idílico?) que os alienígenas voltam – com força total. Sua nova nave-mãe é do tamanho do Atlântico e possui uma escavadeira que promete chegar ao núcleo da Terra, rachando o planeta e captando nossa energia. A batalha parece antecipadamente perdida, mas assim também parecia em Independence Day, de 1996. O presidente (Pullman) pode ter virado um velho lunático, mas ainda é um herói, e uma nova geração de pilotos, incluindo o filho de Will Smith, está a postos para salvar de novo a humanidade. Ou você acha que ETs, por mais malignos que sejam, têm alguma chance contra Roland Emmerich? Nunca.
Emmerich é um caso, com certeza. Do ponto de vista ideológico, é alienado. Sua obra é toda ela uma tentativa de mostrar que um diretor alemão de 60 anos pode ser mais norte-americano que qualquer cineasta nascido na América.
A utopia de Emmerich é aquela que ele traçou no fim de Independence Day – o 4 de julho, data da independência dos EUA, como marco da redenção da humanidade, reunida sob a bandeira norte-americana. Todo cinema de Emmerich é sempre construído em torno desse símbolo. A bandeira já foi rasgada, queimada em seus filmes. Em O Ressurgimento, fica a meio pau, quando a nave quase destrói a Casa Branca – que, como outro símbolo de poder – também tem sido vista com frequência em seus filmes. Nada disso é novidade. A novidade? Gay de carteirinha, Emmerich desta vez fez um épico LGBT, enchendo o filme de pares homoafetivos. Não é pouca coisa, numa época em que a homofobia anda solta, e matando.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.