Mesmo com Grammys na estante, show no Super Bowl e apresentação na abertura da Copa do Mundo de 2010, William James Adams Junior, conhecido mundialmente como will.i.am, de 47 anos, ainda sonha alto. Ele conversa com o <b>Estadão</b> da Universidade de Harvard, em Boston, nos Estados Unidos, para falar do novo álbum do grupo Black Eyed Peas, Elevation, lançado na sexta-feira, 11. Empreender, no entanto, é o próximo passo do produtor multifacetado. "Meu sonho é aprender a ser melhor nos negócios, ser dono de uma empresa e aprender com outros empresários. Se eu não tivesse sucesso na música, ainda estaria no gueto", disse o rapper e compositor.
Os outros integrantes do grupo, os amigos de infância, Allan Pineda, o Apl.de.ap, e Jaime Luis Gomez, o Taboo, participam da videoconferência de última hora. Os dois falam de diferentes lugares de Los Angeles. Antes da entrevista, Taboo pergunta como está sendo a recepção do novo single, Simply The Best – parceria com Anitta e El Alfa. A representante da Sony Music Brasil diz que a colaboração faz sucesso no Brasil, Espanha, México, Alemanha. Ao escutar a resposta, fica ansioso como um aluno do ensino médio prestes a descobrir as notas escolares. "Estou muito animado com esse disco", afirma o músico.
Com 15 faixas, Elevation marca o terceiro lançamento desde o retorno do trio. Eles pararam por cerca de oito anos até Masters Of The Sun Vol. 1. O novo disco tem participação de nomes como Anitta, Shakira, David Guetta e Ozuna.
<b>Pausa e retorno</b>
Contra a sua vontade, o produtor usou o hiato para lançar o disco solo WillPower (2013). "Não queria ter uma carreira solo. Deveria ter sido um álbum do Black Eyed Peas", exclamou will.i.am, inconformado.
Taboo teve uma experiência diferente no hiato. Responsável por reunir o trio, ele enfrentou a pior época da vida fora do grupo ao ser diagnosticado com câncer. "Se eu odiei a pausa? Sim. Ela precisou acontecer para eu lidar com a situação da época? Sim, porque passei por um trauma maluco no tratamento." A experiência de quase morte de um dos integrantes trouxe o Black Eyed Peas de volta. "Tanto tempo longe é um suicídio para qualquer artista, especialmente, os da cultura pop", disse Taboo.
Will afirmou que, como começaram "do nada", sabem como é trabalhoso voltar ao topo. "Masters Of The Sun foi um projeto científico. Foi com ele que percebemos que não deveríamos tentar gravar um disco pop", completou.
<b>Inspiração</b>
Os integrantes do Black Eyed Peas jantavam na Espanha quando pensaram em um título para a nova era. Nomes como Creation, Celebration e Comunication foram cotados, mas Elevation ganhou por uma razão.
Will explica que, sem querer, a discografia do grupo é dividida em pares: "Não de propósito, acabamos de perceber isso. Behind The Front e Bridging The Gap foram álbuns muito similares. Depois, Elephunk e Monkey Business tinham um estilo musical parecido. E aí fomos para The End e The Beginning. Também temos os volumes 1 e o 2 do Masters Of The Sun – nós já temos o segundo, mas lançamos apenas o primeiro", revela.
Elevation combina a musicalidade entre Elephunk (2003), primeiro álbum lançado com Fergie, e o último, Translation (2020). "É o nosso disco mais equilibrado", diz Will. O novo trabalho faz história trazendo Taboo com um solo, fato inédito em quase 30 anos de carreira, na canção In the Air. Segundo o artista, a música nasceu de uma performance ao vivo.
"Uma mágica começou a acontecer ali. Lembro de Apl dizendo: Ei, temos de pegar essa energia do show e transformá-la em uma música para você ", conta Taboo.
<b>Brasileiros de carteirinha</b>
Novo trabalho do Black Eyed Peas, Elevation faz ode ao Brasil logo na abertura do disco com Simply The Best, parceria com a cantora Anitta. Em 2019, eles já tinham trabalhado juntos em Explosion. Amigos próximos, o grupo oficializou o convite por telefone e, em seguida, filmaram o clipe em Los Angeles.
"Essa música me lembra da sensação de viajar o mundo, nos hospedarmos em hotéis, termos uma folga em um dia ensolarado. É como me sinto com meus melhores amigos, tocando em estádios para várias pessoas. É o melhor sentimento", reflete will.i.am.
Ter Anitta no disco escancara a relação longa do Black Eyed Peas com o País. Para o produtor, o "espírito" do trio carrega uma "vibe brasileira" em sua essência. "As pessoas são tão orgulhosas da nacionalidade delas aí que, quando viajam ao exterior, levam uma bandeira do Brasil na mala. É o único povo que conhecemos que é assim", destaca o produtor norte-americano.
Apl.de.ap relembra que o "maior show" do Black Eyed Peas ocorreu em território brasileiro, na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, na festa de ano-novo de 2007. "Usamos uma ambulância e fingimos ser outra pessoa para atravessarmos a multidão e chegarmos ao palco. Acho que bateu um milhão de pessoas", relembrou o músico.
O grupo Black Eyed Peas veio pela última vez ao Brasil em 2019, no Rock in Rio, mas deve retornar no final de 2023. Enquanto isso, o trio tem show marcado em uma festa da Copa do Mundo no Catar, mas não se apresentará na cerimônia de abertura.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>