O bloco de apoio à candidatura de Rogério Marinho (PL-RN) ao comando do Senado, formado por PL, PP e Republicanos, quer colar no atual presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o carimbo de omissão, na tentativa de mostrar que aliados do governo Lula teriam "contribuído" com a depredação do Congresso, no último dia 8, durante atos golpistas em Brasília.
No anúncio da aliança entre os três partidos do Centrão, neste sábado, 28, Marinho defendeu a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar "falhas e omissões" que levaram à destruição dos prédios públicos. Ex-ministro de Desenvolvimento Regional do governo de Jair Bolsonaro, Marinho disse que não poderia fazer "julgamento prévio" quanto à responsabilidade de Pacheco, mas tentou jogar para o lado do adversário a pecha de não defender as instituições.
Candidato à reeleição, Pacheco é favorito na disputa, e enfrenta intensos ataques de bolsonaristas nas redes sociais. Desde os ataques do último dia 8, porém, apoiadores de Pacheco passaram a associar Marinho, que é apoiado pelo ex-presidente Bolsonaro, à defesa da ruptura.
Aliado de Marinho, o senador Flávio Bolsonaro (PL) disse que os protestos ocorridos nos últimos meses, como os atos de 8 janeiro e o vandalismo observado após a diplomação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ocorreram porque Pacheco "não teve a capacidade e a visão de promover a pacificação e o diálogo". Flávio também insinuou que a atuação dos atuais chefes dos Poderes colaborou para a crise política no País e chegou a classificar as manifestações golpistas em frente aos quartéis como "pacíficas".
"Um lado que anuncia uma pacificação e faz outra coisa, exclui o outro lado. Rogério Marinho tem o perfil para fazer a pacificação neste paz", disse Flávio, ao pregar que os votos das bancadas de PL, PP e Republicanos sejam abertos, no próximo dia 1º. O bloco de apoio a Marinho estima contar atualmente com 35 votos e avalia ter 11 senadores ainda em disputa para definir a eleição.
Ex-líder do governo Bolsonaro (PL) no Senado, Carlos Portinho (PL) argumentou que os ataques às sedes dos três Poderes, no dia 8, ocorreram porque "todas as lideranças falharam". Portinho responsabilizou Pacheco, Lula e membros do Judiciário por não terem pacificado o País, o que, na sua avaliação, poderia ter contribuído para a tentativa de golpe.
A estratégia do bloco de oposição a Pacheco adota o discurso de que é necessário conter o que chama de "excessos" do governo Lula e de setores do Judiciário. O bloco também critica o apoio que o atual senador recebeu de Lula. "Estamos vivendo no Brasil a transição entre dois governo que poderia ter ares de normalidade, mas, pelos acontecimentos que todos nós assistimos, não é isso que acontece", disse Marinho.
"(A nossa) causa é o resgate da normalidade democrática, do restabelecimento das garantias individuais da sociedade brasileira. O Senado não pode nem deve se omitir. Nós não podemos aceitar a censura prévia por se tornar um valor conquistado na redemocratização do nosso país", afirmou o candidato do PL em alusão às medidas do governo Lula e do Supremo Tribunal Federal (STF) contra a desinformação.
<b>Legado
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Marinho defendeu diversas vezes os "legados" das gestões de Bolsonaro e do ex-presidente Michel Temer (MDB), sobretudo na área econômica. Ele prometeu construir uma agenda liberal e de defesa da liberdade de expressão, caso vença Pacheco na disputa pelo comando do Senado. O senador eleito condenou as falas do petista sobre Temer ter aplicado um "golpe" durante o processo de impeachment que afastou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
"Uma boa parte desse legado (de Bolsonaro e Temer) está em risco. Nós precisamos fazer o contraponto. Precisamos moderar a avidez e os excessos que nós estamos assistindo daqueles que estão chegando ao governo e no afã de impor a sua agenda estão destruindo as conquistas deste país", afirmou. "As pessoas querem ter de novo o direito de se expressar, de falar o que pensam, as pessoas estão com medo neste País."
Apesar dos ataques à atuação de Lula e do Judiciário, Marinho disse que a abertura de processos de impeachment contra ministros do STF, em especial os endereçados a Alexandre de Moraes, não devem prosperar de imediato se ele vencer a eleição.
O afastamento de Moraes é uma das principais pautas defendidas pelos bolsonaristas, que enxergam no magistrado uma ameaça à liberdade de expressão e aos direitos individuais. O senador eleito defendeu estabelecer diálogo institucional com todos os Poderes antes de adotar medidas mais enérgicas.