Em mais um passo para a desvinculação entre a Vale e o poder público, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) zerou sua participação acionária na mineradora, em operações que, desde o início de 2021, somaram R$ 11,2 bilhões na Bolsa paulista.
Desde agosto do ano passado, a instituição financeira vendeu um total de R$ 24 bilhões em ações da mineradora. Parte relevante dessa venda foi possível após o fim do acordo de acionistas da Vale, ao qual o banco estava vinculado, e que se encerrou em novembro de 2020. "A venda de Vale foi basicamente encerrar um processo de privatização que começou há 23 anos", disse o diretor de privatizações do banco de fomento, Leonardo Cabral.
Agora, a única presença do banco de fomento na companhia é por meio de títulos que foram originados com a privatização, realizada em 1997. O banco tem mais R$ 6 bilhões dessas debêntures participativas nos direitos minerais da empresa. Essa venda está planejada ainda para o primeiro semestre, de acordo com Cabral.
Por se tratar de um instrumento diferente no mercado, o processo precisa ser feito com mais calma, para que os investidores entendam exatamente do que se trata esse título. "É a primeira oferta de um ativo desse tipo no Brasil", explica o executivo.
O BNDES conseguiu aproveitar o fato de que a ação da Vale está nas máximas históricas, consequência direta da alta do preço do minério de ferro, na esteira do salto dos valores das commodities como um todo. Em 12 meses, o valor da ação da mineradora praticamente dobrou de preço. O resultado é que hoje a Vale é a empresa mais valiosa da Bolsa brasileira, avaliada em mais de R$ 500 bilhões.
Após a despedida do banco público, o governo federal ainda tem participação indireta na Vale, por meio dos fundos de pensão Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), Petros (da Petrobras) e Funcef (da Caixa Econômica Federal). Somente a Previ tem uma fatia de um pouco mais de 10% da mineradora – as outras duas fundações têm participações bem menores.
<b>Cronograma</b>
O movimento de desinvestimentos do banco de fomento tem sido intenso. Ao longo de um pouco mais de um ano ao longo da gestão de Gustavo Montezano, a carteira de renda variável da instituição financeira, que tinha grande concentração das chamadas "campeãs nacionais", foi reduzida em R$ 65 bilhões.
Além de Vale, foram vendidas as ações sem direito a voto (ordinárias) na Petrobras, a participação na Marfrig, na Suzano, na AES Tietê e metade da fatia que tinha na Klabin.
Além das ações remanescentes na fabricante de papel, a próxima venda deverá ser da fatia na empresa do setor elétrico Copel. Já a participação ainda detida na Petrobras, por meio das ações sem direito ao voto (preferenciais), e a fatia no frigorífico JBS não estão no radar imediato e devem ocorrer mais adiante, comenta Cabral.
As ações detidas na Eletrobras, outro ativo na carteira, também não devem ser vendidas nesse momento. "Está fora do radar do BNDES, mas não do governo, iremos aguardar as diretrizes", comenta. O prazo que o BNDES estabeleceu para vender um total de R$ 90 bilhões de sua carteira de renda variável se encerra apenas no fim de 2022.
<b>Nova era</b>
O diretor de participações, mercado de capitais e crédito indireto do banco de fomento, Bruno Laskowsky, explica que a saída do BNDES de empresas mais maduras representa uma espécie de "reciclagem do capital do banco", com os recursos agora passando a serem destinados a outras áreas. A prioridade passará a ser empresas menores, cadeias de inovação, com atenção às startups, investimentos alternativos relacionados ao mercado de carbono e aportes em infraestrutura.
Outro movimento que também será notado, segundo Laskowsky, é a ida de empresas que receberam investimentos do banco para a Bolsa, por meio de oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). Hoje, o banco tem em sua carteira fatias de cerca de 40 empresas fechadas.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>