A Operação Lava Jato deve implicar desmobilização de ativos nas construtoras envolvidas, o que criará oportunidades no mercado, afirmou Nelson Siffert, superintendente da Área de Infraestrutura do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“Tem um processo que vai trazer oportunidades para investidores, tem vários ativos de infraestrutura que podem ser ofertados ao mercado”, disse a jornalistas no Congresso Abvcap 2015, no Rio.
De acordo com ele, o BNDES está preocupado com a perenidade dos projetos, mas que, apesar disso, os impactos do escândalo de corrupção não devem chegar ao ponto de levar à queda dos desembolsos da instituição neste ano.
“Em nossa carteira, apenas um único projeto teve inviabilizada sua continuidade (por conta da Operação Lava Jato)”, afirmou. Questionado posteriormente qual foi o projeto, Siffert não quis detalhar, mas disse que não se tratava da Sete Brasil.
“Era uma operação que o banco não tinha contratado ainda e não avançou. Os demais projetos, onde há acionistas envolvidos na Lava Jato, ou estão concluídos ou, muitas vezes, eles têm uma participação minoritária. A gente observa que muitos desses empresários estão se desfazendo desses ativos”, disse.
Segundo ele, tratava-se de uma concessão. “O grupo perdeu a posição de risco de crédito, além de ter problemas de compliance. A avaliação de risco de crédito não permitiu a operação avançar”. Por conta da Lava Jato, o grupo foi seriamente impactado na sua capacidade econômica e financeira, disse.
Orçamento do banco
Siffert afirmou que o orçamento de desembolso do BNDES para 2015 deve ficar em torno de R$ 170 bilhões, inferior aos R$ 187,8 bilhões para empréstimos no ano passado.
A respeito da redução do orçamento, Siffert lembrou que a ideia é o banco diminuir a dependência de suporte do Tesouro. “Portanto, o BNDES não tem um orçamento que possa crescer de forma elástica. É fundamental que o mercado de capitais se some ao esforço do banco de financiar a infraestrutura e a economia como um todo”, disse.
De acordo com ele, a expectativa é de que o mercado de capitais venha a ter um papel mais expressivo, junto com o BNDES, financiando os projetos por meio de debêntures.
A carteira de projetos da área de infraestrutura do BNDES somava em janeiro 399 projetos, orçados em R$ 362,6 bilhões, dos quais R$ 199,6 bilhões seriam financiados pelo banco de fomento. O superintendente estima que os desembolsos do banco para o setor de infraestrutura em 2015 totalizem em torno de R$ 60 bilhões. No ano passado, eles somaram R$ 68,9 bilhões. São considerados energia, logística, mobilidade urbana, saneamento e parte do Finame (financiamento de máquinas e equipamentos).
“Haverá crescimento na parte de concessões, mas no Finame talvez tenha uma queda, o que fará que estabilize os R$ 60 bilhões”, afirmou.
Somente para logística e energia o montante liberado deve chegar a R$ 33 bilhões no ano, uma alta de 11% ante 2014. Desse total, cerca de R$ 19 bilhões são para energia e entre R$ 13 bilhões e R$ 14 bilhões de logística. No ano anterior, o número de energia foi o mesmo, enquanto o de logística ficou em torno de R$ 11 bilhões.
Segundo ele, no primeiro trimestre deste ano os desembolsos de energia e logística cresceram 10% ante o mesmo período do ano passado. “Os investimentos em infraestrutura permanecem porque são de longo prazo. Esse desembolso que vai acontecer neste ano é decorrente de leilões que ocorreram nos últimos três anos e projetos que já estão em implementação. Por exemplo, as rodovias que tiveram concessão no ano passado já representam em desembolso deste ano acima de R$ 1 bilhão. Os aeroportos do Galeão e Confins também já começam a ter desembolsos neste ano.”
A previsão é que o valor suba a R$ 37 bilhões em energia e logística em 2016, R$ 41 bilhões em 2017 e atinja R$ 50 bilhões em 2018. Os investimentos em logística, segundo ele, deverão puxar o setor de infraestrutura nesse período.