A recuperação que chegou a se acentuar à tarde nos mercados de Nova York, combinada aqui à leitura positiva sobre o relatório trimestral de inflação (RTI), divulgado nesta manhã pelo BC, resultou em alta acima de 2% para o Ibovespa nos melhores momentos desta quinta-feira, 24, então mais do que revertendo a perda de 1,60% observada ontem. No exterior, a atenção seguiu concentrada, como no dia anterior, em declarações de autoridades do Federal Reserve – mas desta vez a resposta inicial dos investidores foi positiva. Ao final, em paralelo à perda de fôlego em Wall Street, o índice de referência da B3 limitou os ganhos a 1,33%, aos 97.012,07 pontos, após ter parecido estar a caminho do melhor nível das últimas quatro sessões.
"O mercado continua muito sensível a notícias, boas ou ruins, que chegam dos EUA às vésperas da eleição, especialmente quanto à possibilidade de se definir um novo pacote de estímulos fiscais, com outra grande dúvida ainda pendente: a de como ficará a relação com a China. A tendência é de que a volatilidade persista", diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos. Ele observa também que o relatório de inflação foi um evento positivo para a sessão, na medida em que a percepção do BC sobre o recente repique nos preços não implica mudança na orientação de curto prazo para os juros. "Mantemos nossa visão de que a Selic permanecerá em 2% até o fim do próximo ano", acrescenta o analista da Ativa.
Na B3, o giro financeiro totalizou R$ 24,6 bilhões e, com o desempenho de hoje, o Ibovespa limita as perdas da semana a 1,30% e as do mês a 2,37% – no ano, cede 16,11%. O movimento de hoje foi definido por observadores do mercado como um ajuste técnico, que se traduziu a princípio em busca de ações com desconto, como as do setor bancário (Itaú +2,45%, Santander +2,73% e Bradesco PN +1,90%), no grupo dos mais atrasados no ano. Entre as ações do setor financeiro, destaque para B3, em avanço de 5,51%, o segundo mais alto da carteira Ibovespa no fechamento – superado apenas por IRB (+12,38%), e à frente de Qualicorp (+4,96%) e PetroRio (+4,73%).
No lado oposto, CSN cedeu 1,80%, seguida por Localiza (-1,66%), Minerva (-1,54%) e Suzano (-1,35%). Entre as commodities, Vale ON, que havia sido destaque do dia anterior, quando foi a terceira maior alta da carteira Ibovespa, fechou hoje em baixa de 0,74%, enquanto Petrobras PN e ON subiram hoje, respectivamente, 0,84% e 0,72%. Ainda que moderadamente, as siderúrgicas estiveram na face negativa do dia, com destaque, além de CSN (que acumula ganho de 12,12% no ano), para Usiminas (-1,05% na sessão, e em alta de 10,40% em 2020).
"A recuperação da economia nos EUA – perceptível hoje nos dados sobre vendas de moradias novas – é particularmente importante para a Gerdau, pela sua exposição ao país. Para a CSN, há grande expectativa quanto à venda de sua parte de mineração que, no segundo trimestre, respondeu por mais de 50% do Ebitda da empresa. E Usiminas é um caso interessante de recuperação de preço, pela exposição que tem à economia doméstica", diz Arbetman.
Na B3, a perspectiva do BC para inflação e juros, expressa no relatório trimestral de inflação, proporcionou alívio aos investidores, em sessão na qual o dólar mostrou alguma acomodação após o sprint recente – hoje, o spot fechou em baixa de 1,37%, a R$ 5,5106, enquanto a curva de juros desinclinou, ambos reagindo aos sinais do BC no RTI, combinado também à melhora do apetite externo por ativos de risco, que levou a moeda americana a acentuar as perdas frente a emergentes.
À tarde, declarações da presidente da Câmara de Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, de que os democratas estão prontos a retomar as negociações com os republicanos sobre estímulos fiscais, deram algum alento ao apetite dos investidores, após o dia anterior ter sido marcado por diversos alertas de autoridades do Fed – entre as quais o presidente, Jerome Powell – sobre a necessidade de nova rodada de estímulos, tendo o BC americano já cumprido sua parte.