Há exatamente um ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu que o então novo coronavírus configurava pandemia global, o que levou o Ibovespa ao segundo circuit breaker daquela semana e a perder 7 mil pontos na sessão, em queda de 7,64%, a 85.171,13 pontos no fechamento daquela quarta-feira. Hoje, mesmo com a decretação de fase mais restritiva no Estado de São Paulo, e a proximidade de colapso no sistema de saúde do País, o índice da B3, acompanhando a recuperação dos sinais vitais fora do Brasil, especialmente nos EUA, obteve alta de 1,96%, aos 114.983,76 pontos, acumulando recuperação de 35,00% em um ano. Em março, os ganhos do Ibovespa chegam a 4,50%, com perda limitada a 0,19% na semana – em 2021, ainda cede 3,39%. O giro desta quinta-feira ficou em R$ 45,3 bilhões.
Nas máximas desta quinta-feira, o índice voltou a testar a resistência dos 115 mil pontos, chegando aos 115.126,94 pontos no pico do dia, em alta acima de 2%. Em março, apenas no dia 5 o Ibovespa conseguiu sustentar o nível de 115 mil no fechamento, ensaiado hoje durante a sessão pela terceira vez no mês. Nesta quinta, o índice da B3 saiu de abertura a 112.781,82 pontos, com mínima do dia a 112.775,50 pontos.
O enfraquecimento do dólar em meio à progressão da PEC Emergencial no Congresso e, especialmente, ao expansionismo fiscal nos Estados Unidos, reforçado pela sanção de novo pacote trilionário, deram impulso às ações correlacionadas a preços internacionais (Brent +2,55%) e demanda externa, como as de commodities (Petrobras PN +4,25%, Vale ON +2,62%) e siderurgia (CSN +9,17%, segunda maior alta do Ibovespa na sessão) – hoje, o minério de ferro fechou em alta de 3,66% no porto de Qingdao, na China, a US$ 170,70 por tonelada. Na ponta do índice da B3 nesta quinta-feira, contudo, também estiveram ações "domésticas", como CVC (+10,96%) e Ecorodovias (+8,64%). No lado oposto, Totvs (-1,99%), PetroRio (-1,64%) e JBS (-1,38%).
No cenário doméstico, não parece haver tanto a comemorar: mesmo com a fraca dinâmica econômica, o IPCA de fevereiro foi o maior para o mês desde 2016, o que reforça a expectativa por aumento de até 0,50 ponto porcentual para a Selic na reunião do Copom na próxima semana, e a pandemia ainda é figurada como campo de batalha entre governo federal, estados e municípios. Hoje, em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro sugeriu que a nova rodada de distanciamento social pode resultar, em breve, em invasão de supermercados, greves e fogo em ônibus.
Lá fora, os índices Dow Jones e S&P 500 voltaram a renovar máximas históricas durante a sessão, e também no fechamento, no dia seguinte à aprovação final, pelo Congresso dos EUA, do pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão, sancionado hoje pelo presidente Joe Biden, em momento no qual a vacinação avança em ritmo mais forte no país, recolocando a questão de quando o Federal Reserve deixará a zona de conforto e elevará os juros.
Aqui, o encaminhamento nesta quinta-feira do segundo turno de votação da PEC Emergencial mantém a percepção de que o que foi preservado do texto do Senado se impõe aos destaques eventualmente mantidos ao final da tramitação na Câmara dos Deputados. "A aprovação do texto-base da PEC Emergencial em segundo turno na Câmara e a promessa do presidente da Casa, Arthur Lira, de que o relatório da reforma tributária será apresentado na próxima semana aliviam o estresse da curva de juros, favorecendo mais um pregão de alta para o Ibovespa", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.
"Para os próximos meses, com a aprovação da PEC Emergencial, vamos precisar observar, com auxílio emergencial em torno de R$ 250, o que esta injeção de recursos na economia vai trazer efetivamente de impacto para a inflação. A gente não imagina que os combustíveis nem a educação, que foram os principais vilões deste mês, contribuam de forma mais forte nos próximos – talvez uma inflação que venha mais dos alimentos, nos próximos meses. Vamos ver como serão as safras, mas a expectativa é por uma inflação muito mais tranquila a partir do mês de março e abril", observa Igo Falcão, sócio da Aplix Investimentos.