Bolsa fecha em baixa de 0,80%, a 117.380,49 pontos, com perda de 2,47% na semana

Na pior série desde o fim de outubro, o Ibovespa emendou nesta sexta-feira a quarta queda consecutiva, elevando as perdas na semana a 2,47% e as do ano a 1,38%, enquanto, em Nova York, os ganhos em 2021 variam entre 1,28% (Dow Jones) e 5,08% (Nasdaq) com sucessivas renovações de máximas históricas. A fraqueza do fiscal e o ambiente político ruidoso, bem como o ceticismo em relação ao avanço da vacinação no País, impõem-se ao cenário externo ainda favorável, com ampla liquidez global e expectativa positiva para o início de novo governo nos EUA.

Nesta sexta-feira, perto do fechamento, o Ibovespa conseguiu limitar a perda do dia a 0,80%, aos 117.380,49 pontos, ainda assim no menor nível desde o encerramento de 22 de dezembro, então aos 116.636,18 pontos.

Como nas últimas sessões, o giro financeiro também se mostrou mais acomodado em relação ao observado no começo do ano – nesta sexta, totalizou R$ 33,8 bilhões. A perda de 2,47% nesta semana sucede retração de 3,78% na anterior e ganho de 5,09% na primeira do ano.

Para Alex Lima, head de gestão da Lifetime Asset Management, pela "incapacidade de fazer o que se espera que seja feito", o Brasil começa a perder a carona de um cenário externo benigno aos emergentes, com um início de governo Biden inclinado a mais estímulos e em retórica de recomposição de laços globais, sem as atribulações de Trump, o que tem contribuído para que os índices de Nova York renovem recordes. "Estamos começando a ficar em descompasso pelos nossos fundamentos e por falta de reação das autoridades políticas. No momento, têm emergido posições antifiscais na disputa pelo comando da Câmara e do Senado. Após perder a corrida pela vacina, Bolsonaro parece ter ficado com menos opções de jogo. E se a conversa sobre impeachment ganhar força, o mercado vai recalcular e colocar no preço."

Em outro desdobramento importante, nesta semana o Banco Central retirou o <i>forward guidance</i> do comunicado sobre a decisão de política monetária, abrindo caminho para elevação da taxa de juros antes do que parte do mercado antecipava. "Maio e junho passaram a concentrar a atenção (sobre a Selic), mas já há quem fale em março como momento em que o BC poderá atuar", diz Lima. "Em quatro semanas, a ponta longa de juros abriu quase 100 pontos. Apesar do bom humor externo, que contribui com fluxo para a Bolsa, temos uma situação fiscal muito complicada – e agora silêncio da área econômica sobre o que tem ocorrido na política. O sentimento do mercado não pode ser outro no momento: risk-off."

Assim, desde que renovou máxima histórica intradia (125.323,53) e de fechamento (125.076,63) em 8 de janeiro, após ter tocado pela primeira a vez a marca de 120 mil pontos na última sessão de 2020, o Ibovespa acumula perda de cerca de 8 mil pontos em relação ao topo. As incertezas sobre o ritmo de vacinação e a necessidade de retomada do distanciamento social começam a resultar em reavaliação sobre o PIB do primeiro trimestre, com efeitos que poderão ser sentidos também no período subsequente. "Há espaço para o Ibovespa cair mais – aos 106 mil pontos se teria um bom ponto de compra", diz Lima, da Lifetime.

"O mercado deve seguir em realização até a eleição para a presidência da Câmara, no início de fevereiro, com espaço para o índice chegar aos 110 mil pontos. Hoje tivemos o prosseguimento da correção de ontem, quando (Rodrigo) Pacheco e (Arthur) Lira (candidatos à presidência do Senado e da Câmara) falaram sobre auxílio emergencial e teto de gastos. A leitura é de que o teto venha a ser furado, independente de quem vença as disputas", diz Jefferson Laatus, estrategista do Grupo Laatus. "Combinado a isso, há o lockdown também sendo retomado na China. Vale lembrar que, em 2020, as coisas começaram a piorar às vésperas do Ano Novo Lunar. Existe a preocupação de que o vírus volte a se espalhar por lá com os deslocamentos pelo feriado", acrescenta o estrategista, observando que o feriado aqui na segunda, com mercados abertos lá fora, é um elemento a mais para a cautela dos investidores.

Em meio a tantos fatores de risco, o índice da B3 emendou nesta sexta sua pior sequência desde o intervalo entre 23 e 28 de outubro, quando também encadeou série de quatro baixas – a maior, no dia 28, quando cedeu 4,25%. A partir de novembro, veio a recuperação, com fluxo estrangeiro que se estendeu a dezembro e a este começo de janeiro.

Contudo, nas últimas seis sessões, o índice da B3 obteve ganho apenas na segunda-feira, 18, o dia seguinte ao início da vacinação em São Paulo, quando subiu 0,74%. Mas se sabia que o alívio seria pontual, na medida em que a celebração da primeira picada logo daria lugar à evidência de que o estoque de vacinas é curto – o País depende da provisão de insumos importados que, uma vez interrompida, dificulta o avanço da imunização.

Dessa forma, a confirmação de que o Estado de São Paulo regressará à "fase vermelha", com fechamento de comércio e serviços não essenciais nos fins de semana, e restrição de horário durante a semana, contribuiu nesta sexta-feira para reforçar a cautela dos investidores, resultando em alta para dólar e juros, e baixa na Bolsa, que na mínima desta sexta, a 116.108,90 pontos, retrocedeu, como no fechamento, a nível anterior ao Natal.

Nesta sexta-feira, na ponta da correção do Ibovespa, destaque para as quedas de IRB (-8,95%), CVC (-4,98%) e Eletrobras ON (-3,39%). No lado oposto, BRF subiu 3,19%, à frente de Magazine Luiza (+1,96%) e Sabesp (+1,79%). Entre as blue chips, Petrobras PN fechou em baixa de 1,67%, e a ON, de 1,28%, enquanto Vale ON cedeu 0,20%. Parte da siderurgia obteve ganhos na sessão (Gerdau Metalúrgica +1,40%, Gerdau PN +1,36% e CSN +1,68%). Entre os bancos, as perdas do dia ficaram entre 0,64% (Santander) e Itaú PN (2,14%).

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