O Ibovespa encerrou fevereiro em tom menor, emendando a segunda perda mensal, em retração superior à acumulada em janeiro. Após recuar 3,32% no primeiro mês do ano, o índice encerra fevereiro cedendo 4,37%, elevando a queda a 7,55% no ano. Foram três perdas semanais consecutivas até a desta sexta-feira, 26, em que o índice da B3 fechou em baixa de 1,98%, a 110.035,17 pontos, agora no menor nível desde o encerramento de 30 de novembro (108.893,32). Hoje, oscilou entre mínima de 109.827,09 (menor nível intradia desde 1º de dezembro) e máxima de 113.466,21, com abertura a 112.260,21 pontos. Na semana, o Ibovespa registrou perda de 7,09%, a maior desde a de 7,22% no período encerrado em 30 de outubro. Bem sólido, o giro desta sexta-feira foi de R$ 54,6 bilhões.
Renovando mínimas na hora final dos negócios, abaixo dos 110 mil, o índice de ações começou a acentuar correção no meio da tarde quando vieram a público relatos de que o presidente do Banco do Brasil, André Brandão, estaria decidido a deixar o cargo. Em janeiro, Brandão entrou em rota de colisão com o presidente Jair Bolsonaro, em razão de plano para fechamento de agências, de forma a melhorar a produtividade da instituição. Na ocasião, o ministro da Economia, Paulo Guedes, conseguiu contornar a situação para mantê-lo à frente do BB – o que não se repetiu na semana passada, quando Guedes não foi ouvido por Bolsonaro ao decidir trocar Roberto Castello Branco pelo general Joaquim Silva e Luna para o comando da Petrobras. Hoje, BB ON fechou em baixa de 4,92% e Petrobras PN, de 4,10%.
"Diante de novos rumores (sobre o BB) e o caso Petrobras, o mercado já coloca na conta mais uma intervenção estatal e penaliza o índice, assim como inclina ainda mais a curva de juros", observa Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. "O Ibovespa iniciou a semana perdendo pontos de suporte importantes, como o de 118 mil e o fundo anterior, de 114.800. Se seguir com força vendedora, o próximo suporte se dá na região de 109.500 pontos", aponta a analista gráfica Pam Semezzato, da Rico Investimentos.
Desde a última sexta-feira, quando ficou clara a intenção do presidente Bolsonaro de interferir na gestão da Petrobras para impedir aumentos "excessivos" nos preços dos combustíveis, o Ibovespa passou a terreno negativo no mês, coincidindo com a retirada de recursos estrangeiros na B3. Entre aquele dia e esta quarta-feira, a saída líquida de recursos externos totalizou R$ 9,455 bilhões; nos quatro dias do intervalo, o fluxo estrangeiro para ações brasileiras foi sempre deficitário, e em fevereiro até o dia 24, está agora negativo em R$ 4,895 bilhões no mês, interrompendo série de ingressos entre novembro e janeiro. Em 2021, o saldo é positivo em R$ 18,660 bilhões.
Para complicar a situação, o avanço dos rendimentos dos títulos americanos recoloca a questão do momento em que as taxas de juros do Federal Reserve voltarão a subir, em um cenário de recuperação econômica nos EUA induzida não apenas pelos amplos estímulos monetários e fiscais, mas também pela retomada da atividade proporcionada pela vacinação, que tem resultado em algum controle da pandemia no país. Assim, o cenário externo, embora ainda favorável e benéfico às commodities, carro-chefe do País, tende a se tornar mais seletivo quanto aos emergentes, especialmente os que mostrem progressão preocupante da relação dívida/PIB, como o Brasil.
"Fevereiro não foi tão ruim para a Bolsa se considerarmos também as 12 ofertas públicas ocorridas no mês, trazendo investidores. Mas temos um cenário desafiador, com a expectativa de que mais inflação possa resultar em elevação de juros nos EUA. Além dos nossos problemas: não apenas a situação fiscal mas a persistência da pandemia, com prorrogação ou retomada de lockdown, que afeta diretamente a economia doméstica. É o que temos observado recentemente no comportamento de ações com exposição à atividade interna, como as de varejo", diz Rodrigo Friedrich, head de renda variável da Renova Invest. Hoje as ações de Via Varejo (-6,02%) seguraram a ponta negativa do Ibovespa, com BRF (-7,16%), que anunciou resultado trimestral após o fechamento de ontem, e CSN (-5,16%).
Destaque também nesta sexta-feira para Vale ON, em baixa de 1,24% mesmo com resultados trimestrais favoráveis – a decepção decorreu em parte pelos dividendos anunciados, de US$ 4 bilhões, em ano no qual a empresa teve geração de caixa recorde. Na ponta do Ibovespa, Minerva (+3,30%), com resultados trimestrais da noite de ontem, seguida por Eneva (+2,27%) e Magazine Luiza (+0,50%), os três únicos desempenhos positivos do índice nesta sexta-feira.
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