O Ibovespa chegou a escorregar para a linha dos 126 mil pontos nesta sexta-feira, 25, não vista desde o início do mês, mas conseguiu frear as perdas no fim da tarde, aos 127.255,61 pontos no fechamento, em queda de 1,74%, a maior desde os 2,65% cedidos na sessão de 12 de maio. Hoje, o índice de referência da B3 oscilou entre mínima de 126.696,64 (-2,18%), menor nível desde 1º de junho, e máxima de 129.747,61, com abertura aos 129.512,94 pontos. Com o desempenho negativo desta sexta-feira, o Ibovespa acumulou a terceira perda semanal consecutiva, desta vez de 0,90%, vindo de quedas de 0,80% e 0,53% nas anteriores. Nesta véspera de fim de semana, o giro financeiro ficou em R$ 34,5 bilhões. No mês, a Bolsa ainda sobe 0,82% e, no ano, 6,92%.
No dia em que o Ministério da Economia anunciou uma série de iniciativas no campo tributário, a proposta de tributação em Bolsa lançada pelo governo, apesar da retórica do ministro Paulo Guedes de "ganha, ganha" com base na perspectiva de crescimento econômico, caiu mal no mercado, inclinando o dólar para cima (+0,67%, a R$ 4,9377 no fechamento) e o Ibovespa para baixo, descolado da sessão moderadamente positiva em Nova York, com destaque para o Dow Jones (+0,69% no encerramento) e para o S&P 500 (+0,33%, em novo recorde para o fechamento).
Nesta sexta-feira, em audiência na Comissão Temporária do Senado que acompanha a pandemia. Guedes disse estar de acordo com os que defendem a necessidade de se implementar um programa de renda básica no País. A questão agora, segundo o ministro, é encontrar o dinheiro para financiar o programa. "Hoje não tem dinheiro para (renda básica) de R$ 600", reiterou. "Estamos de acordo que tem que ter uma renda básica. Agora é encontrar o dinheiro", acrescentou.
"Era dia para dólar abaixo de R$ 4,90, com o exterior favorável, em que o PCE (métrica preferida do Fed para a inflação ao consumidor nos EUA) se mostrou um não evento . Mas o mercado local realmente não recebeu bem as novidades sobre tributos. Passou a impressão de aumento de carga, com o governo, no cobertor curto, precisando encontrar recursos", diz Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch. "Em um dia habitual, cerca de 70% do que se vê de efeito sobre preços de ativos no Brasil costuma se relacionar a fatores externos, e 30% a fatores locais – hoje o que predominou foram esses 30%."
"O governo entregou a proposta da reforma tributária prevendo a tributação de dividendos distribuídos em 20%, com uma isenção para lucros de até R$ 20 mil por mês de micro e pequenas empresas, algo que não era esperado, pois acreditava-se que incluiria pessoa física", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. "Além dos dividendos, foi confirmado também o fim da dedutibilidade de JCP (juros sobre capital próprio), que era contabilizado como despesa dedutível para o efeito de cálculo do IRPJ e da CSLL e, como efeito fiscal, gerava benefício para empresa e rendimento aos acionistas", acrescenta.
"Em termos práticos, as duas medidas acabam impactando o mercado de renda variável, uma vez que haverá a diminuição, de fato, do valor recebido em proventos pelos acionistas – ou seja, redução do dividendo yield pago que, não podemos esquecer, rivaliza com uma renda fixa, que ganha ainda mais atratividade com o ritmo de alta da Selic", conclui Ribeiro.
"Depois da renovação de recordes no início do mês, o índice passou a ficar ali pelos 130 mil pontos, mas perdeu força desde então. A queda de hoje foi bem disseminada por setores, incluindo pesos-pesados, como Petrobras (PN -1,85%, ON -1,61%) e bancos (Itaú PN -3,18%, Bradesco PN -3,12%), na contramão de Vale (PN +1,23%, segunda maior alta do índice, atrás de Bradespar, +4,28%), que contribuiu para evitar perda maior para o Ibovespa, com novos ganhos no minério de ferro em dia bastante favorável a ativos de risco no exterior", diz Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos.
"Mesmo com Vale salvando o Ibovespa da hecatombe, consumo (Ambev -5,57%, Multiplan -4,53%, Hering -3,64%), setor financeiro e imobiliário apanharam muito, com os investidores digerindo a proposta tributária, que gerou mal-estar, especialmente na tributação de dividendos e na alteração de tributação para fundos imobiliários", acrescenta a economista. "A simplificação de alíquotas e a correção da tabela do imposto de renda são vistas com bons olhos, mas, de forma geral, como toda reforma, os detalhes na tramitação são temerosos, será preciso acompanhar ao longo da semana."