Após ter tocado terreno negativo no meio da tarde, enquanto o dólar renovava máximas do dia, o Ibovespa buscou sustentar leve alta para emendar a segunda sessão positiva, algo que não acontecia desde 18 e 19 de junho, quando o índice concretizava a quarta progressão consecutiva – desde então, passou a alternar avanços e recuos diários. Assim, apesar do bom humor externo – embora também moderado no fim da sessão em Nova York -, o Ibovespa encerrou praticamente no zero a zero (+0,03%), a 96.234,96 pontos, enquanto na véspera de feriado nos EUA os ganhos ficaram entre 0,36% (Dow Jones) e 0,52% (Nasdaq), com o índice de tecnologia voltando a renovar máxima histórica de fechamento. No meio da tarde, os ganhos em NY superavam a marca de 1%.
"É natural a cautela antes do feriado amanhã nos EUA, o que afeta as condições de liquidez. Muita coisa pode acontecer em três dias, então se evita tomar posição", diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos. "Este patamar atual do Ibovespa, de 96 a 97 mil pontos, é muito mais condizente com a recuperação observada nos pares do que propriamente com a produtividade por aqui. Estamos ainda um passo atrás na recuperação", acrescenta o analista, observando que dados mais recentes, como os de veículos, atividade industrial e Caged, embora não cheguem a ser motivo de comemoração, sugerem que o pior da crise pode ter ficado para trás também no Brasil.
Na semana, o Ibovespa acumula ganho de 2,56% e nestas duas primeiras sessões de julho avança 1,24%. O giro financeiro ficou em R$ 27,0 bilhões, com o índice tendo chegado a romper a resistência dos 97,6 mil para chegar aos 97.864,16 pontos na máxima da sessão, o maior nível intradia desde 9 de março, então a 97.982,08 pontos na abertura. No ano, o principal índice da B3 mantém perdas a 16,78%. Com o desempenho de hoje, o Ibovespa segue no maior nível de encerramento desde o último dia 19, então aos 96.572,10 pontos, com a variação de 31,76 pontos nesta quinta-feira ante o fechamento de ontem.
Mais uma vez, o ânimo a partir do exterior decorreu de nova leitura positiva sobre o mercado de trabalho dos EUA em junho, confirmando o entusiasmo que já prevalecia na sessão anterior com a geração de vagas no setor privado. Desta vez, o relatório oficial mostrou geração de postos acima do esperado e taxa de desemprego abaixo do projetado para o mês, corroborando a percepção de que a flexibilidade do mercado de trabalho americano contribui para uma recuperação do emprego e da renda mais rápida do que se antecipava. O foco em torno dos testes clínicos de vacinas contra a Covid-19 também sustenta o otimismo de que opção viável seja entregue até o início de 2021.
Ainda assim, o bom humor observado mais cedo em Nova York não foi o suficiente para segurar os ganhos na B3, observa Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. "Os 98 mil pontos vêm servindo de importante barreira desde o mês passado, e fica difícil imaginar que esse ponto, extremamente importante para o mercado brasileiro, será rompido facilmente depois de três meses consecutivos de alta, contra a tendência de baixa de curto prazo", aponta. "O outro motivo está ligado à situação fiscal do país, e ajuda explicar também a valorização do dólar", acrescenta o analista, observando que a dívida bruta deve fechar o ano em 98,2% do PIB – "uma melhora somente deve ser vista a partir de 2025 levando em conta as reformas", que se tornam "ainda mais urgentes".
Depois das 15h, enquanto o dólar à vista passava a renovar máximas da sessão, chegando a R$ 5,3652, o Ibovespa perdia vigor, tocando mínima a 96.051,85 pontos, levemente em terreno negativo, apesar de ganhos bem distribuídos pelos setores de commodities, siderurgia e bancos, enquanto as utilities cediam terreno – retrato que se manteve no fechamento. Na ponta negativa do Ibovespa, IRB encerrou hoje em baixa de 12,24%, seguida por Lojas Americanas (-4,27%). No lado oposto, BTG subiu 3,27%, CSN, 2,55%, e Gerdau Metalúrgica, 2,26%. Entre as blue chips, Petrobras PN subiu 1,61%, Vale ON ganhou 1,74% e Itaú Unibanco 1,72%.
Refletindo alguma redução na percepção de risco sobre os emergentes, a bolsa brasileira encerrou o mês de junho com saldo positivo de R$ 343,030 milhões em recursos estrangeiros, o que não acontecia desde setembro de 2019. O desempenho resultou de R$ 318,668 bilhões em compras de ações por estrangeiros na B3, com vendas a R$ 318,325 bilhões no mês. Em 2020, os investidores estrangeiros já sacaram R$ 76,504 bilhões do mercado acionário brasileiro.