Bolsa inicia outubro em alta de 0,93%, com Petrobras e NY

O Ibovespa parecia a caminho de iniciar o último trimestre do ano como fechou o período anterior, levemente no vermelho, mas, escorado em Nova York e impulsionado pelo desempenho positivo de ações da Petrobras, encontrou fôlego para recuperar os 95 mil pontos na etapa final. Firmando-se em alta e renovando máximas da sessão após as 15h30, o índice de referência da B3 encerrou perto do pico, em alta de 0,93%, aos 95.478,52 pontos, entre 93.599,05 e 95.486,33 pontos ao longo da sessão. O giro financeiro totalizou R$ 24,6 bilhões e, agora, o Ibovespa cede 1,57% na semana e 17,44% no ano.

Decisivo para a virada de jogo foi o salto observado em Petrobras após o ministro Luiz Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), seguir o voto proferido pelo ministro Alexandre de Moraes pela manutenção da venda das refinarias da petrolífera sem anuência do Congresso Nacional – levando então o placar para dois votos a um. Ao final da sessão, os ganhos observados na ação PN, que chegaram a superar 2%, e na ON, que se aproximaram do mesmo limiar, acomodaram-se a 1,22% na preferencial e a 0,91% na ordinária. Após o fechamento do Ibovespa, a votação no STF foi definida em 6 a 4 pela liberação do plano de venda de refinarias da Petrobras.

No quadro mais amplo, algumas notícias econômicas também ajudaram, ainda que modestamente, a mitigar a aversão a risco suscitada pela indefinição sobre a forma de financiamento do futuro Renda Cidadã. Hoje, a Secretaria de Comércio Exterior informou que o superávit comercial em setembro, de US$ 6,164 bilhões, foi o maior da série – mas a Secex ajustou levemente para baixo a previsão de saldo comercial para o ano, de US$ 55,4 bilhões para US$ 55,0 bilhões. Pela manhã, a arrecadação de impostos em agosto, de R$ 124,505 bilhões, a melhor para o mês nos últimos seis anos, surpreendeu positivamente – a leitura ficou levemente acima do teto das estimativas do mercado colhidas pelo Projeções Broadcast

Por outro lado, a tensão política entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não contribui para que as reformas deslanchem e o ajuste de rota essencial a 2021 se delineie, na interlocução entre Executivo e Legislativo. Tal esgarçamento acaba deixando em segundo plano o passo atrás de Guedes quanto ao uso de recursos destinados a precatórios no financiamento do Renda Cidadã. Hoje, o vice-presidente Hamilton Mourão se referiu às escaramuças entre Guedes e Maia como uma "coisa pessoal".

"Estamos no momento da verdade, de preparação para a volta à normalidade. Há decisões difíceis a serem tomadas e, nisso, há uma queda de braço combinada a balões de ensaio até que se chegue a uma convergência", observa Marcelo Audi, sócio-gestor da Cardinal Partners. "Bolsonaro tinha rejeitado propostas mais estruturais apresentadas por Guedes (para o Renda Brasil, depois Renda Cidadã). A História mostra que o (sistema) Político acaba chegando a uma solução, e acho que não ficaremos na solução mirabolante", acrescenta.

Ainda assim, "a situação é um fator de risco que precisa ser levado na ponta do dedo", aponta o gestor. "Foram muitos os momentos de tensão, mas Guedes continua a mostrar que sabe navegar nos momentos políticos mais agitados – esperamos que possa chegar a bom termo. Não se pode dar ao luxo de perder o Guedes, ele continua a ser a âncora", conclui.

Apesar das incertezas, Audi não está pessimista quanto ao desempenho da Bolsa neste último trimestre do ano. "Havia um frisson de IPO – e, agora dando uma acomodada, contribui para a racionalidade. O juro muito baixo ainda é um vetor importante: continua estimulando a busca por retorno, embora talvez sem o mesmo exagero. Ainda existem oportunidades."

"O Ibovespa teve um mês de setembro amargo, com queda de 4,8%", aponta Cristiane Fensterseifer, analista de ações da Spiti, chamando atenção para alguns destaques positivos, como Localiza, na ponta do mês (+17,7%), "após anunciar fusão com sua concorrente, a Unidas, para formar gigante com mais de 60% de mercado". Logo atrás veio Vale, com alta de 11,87%, favorecida pelos "bons preços do minério". "A economia da China, grande cliente, está se recuperando e o dólar, nas alturas frente ao real, ajudou também bastante a Vale. A empresa é quase uma impressora de caixa com este cenário, e anunciou retomada do pagamento de dividendos", acrescenta a analista.

Nesta quinta-feira, Vale ON fechou em baixa de 0,42%, mas acumula até aqui ganho de 14,71% no ano. Na ponta do Ibovespa, IRB subiu 8,14%, seguido por Cogna (+6,56%) e Multiplan (+5,76%). No lado oposto, Natura cedeu 4,99%, à frente de Qualicorp (-3,50%) e CVC (-2,60%).

"A combinação do primeiro pregão do mês, que sempre é marcado pela recomposição de carteira de fundos e corretoras, assim como o múltiplo atrativo de algumas empresas – estamos em tendência de baixa desde a perda dos 100 mil pontos -, pode explicar a recuperação nesta quinta-feira, sem um fato relevante do lado político ou econômico", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, observando que "o Ibovespa encontrou maior pressão de compra sobre a faixa de 93 mil pontos" neste primeiro pregão de outubro.

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