Estadão

Bolsas da Europa fecham em forte baixa, com aversão a risco após CPI dos EUA

As bolsas europeias encerraram o pregão em queda robusta, de 2% a 5% nas principais praças, em meio à aversão global ao risco após o índice de preços ao consumidor (CPI), na sigla em inglês) dos EUA bater sua máxima desde 1981 em maio. O dado desencadeou o temor de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) suba os juros no país mais agressivamente do que tem sinalizado, com algumas análises prevendo avanço de 75 pontos-base em breve.

Também no radar, o eventual aperto monetário na zona do euro deteriora as expectativas para ações, enquanto mercados da periferia da região são penalizados em meio à chance de que ocorra uma nova crise da dívida por conta do aumento dos spreads entre os juros do Bund alemão e de títulos de outros países.

O índice pan-europeu Stoxx 600 fechou em queda de 2,69%, aos A422,71 pontos. Em Londres, o FTSE 100 recuou 2,12%, aos 7.317,52 pontos, com mineradoras como Anglo American (-7,47%) e Glencore (-5,20%) entre os destaques negativos.

Já na bolsa de Frankfurt, o DAX teve baixa de 3,08%, aos 13.761,83 pontos, e o índice parisiense CAC 40 cedeu 2,69%, aos 6.187,23 pontos. Ações de bancos alemães e franceses, como o Deutsche Bank (-5,85%) e o Société Generale (-6,15%), marcaram forte queda nesta sexta.

As fortes perdas foram desencadeadas por temores de aperto monetário mais agressivo nos EUA, após o CPI local acelerar para avanço mensal de 1,0% em maio e registrar a maior taxa anual desde 1981, de 8,6%. Diante da escalada inflacionária, Capital Economics e Barclays preveem agora aumento de 75 pontos-base do juro na reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), enquanto o C6 Bank acredita que uma elevação mais forte do o Fed vem sinalizando será necessária para fazer a inflação voltar à meta de 2% ao ano.

A ferramenta do CME Group que mede probabilidades para as diferentes faixas dos Fed funds corrobora as análises. Pouco antes do fechamento deste texto, ela mostrava chance majoritária de que o Fomc aumente o juro básico em 0,75 ponto porcentual ao menos uma vez até a sua reunião de julho.

As perspectivas de aperto monetário na zona do euro também pesaram sobre as ações europeias nesta sexta. Um dia após o Banco Central Europeu (BCE) confirmar que deve elevar o juro nas reuniões de julho e setembro – com alta de 50 pontos-base tida como provável para o segundo mês – mais dirigentes da entidade argumentaram por um aperto monetário agressivo para controlar a inflação, que está no maior nível histórico.

Entre eles, o presidente do BC da Áustria, Robert Holzmann, defendeu uma alta maior que 25 pontos-base do juro em setembro. Já o chefe do BC da Letônia, Martin Kazaks, disse que o aperto monetário justifica-se em um contexto de inflação "inaceitavelmente alta". Por fim, o presidente do Banco da França, François Villeroy de Galhau, vê a inflação no bloco monetário "muito disseminada", e por isso aumentos dos juros "graduais, mas sustentados", serão necessários.

Principal recuo desta sexta, o índice FTSE MIB, da bolsa de Milão, fechou em queda de 5,17%, aos 22.547,48 pontos, por conta de temores desencadeados pelo crescente spread entre os juros do BTP italiano e do Bund alemão. Segundo a <i>Reuters</i>, o spread entre o retorno dos bônus de 10 anos da Itália e da Alemanha, na prática o prêmio de risco da dívida italiana, bateu nesta sexta máxima de 234 pontos-base, na máxima desde maio de 2020.

O movimento sustenta temores de que uma nova crise da dívida soberana ocorra na zona do euro, similar ao episódio de 2011 e 2012. Na quinta-feira, o Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês) apontou para este risco em relatório, recomendando que o BCE atrase o aperto monetário, que seria inviabilizado caso uma crise da dívida se desencadeie.

Entre outras praças europeias, o índice madrilenho IBEX 35 fechou em baixa de 3,68%, aos 8.390,60 pontos, e o PSI 20, de Lisboa, caiu 3,39%, aos 6.087,96 pontos.

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