O famoso teatro Bolshoi, de Moscou, anunciou, nesta quarta-feira, 19, que removeu de seu catálogo o balé <i>Nureyev</i>, dirigido por Kirill Serebrennikov, acusado de fazer "propaganda de valores sexuais não tradicionais".
A obra, centrada no bailarino soviético Rudolf Nureyev, já havia causado indignação entre as autoridades russas quando estreou em 2017, época em que Serebrennikov era acusado de desvio de recursos.
A peça foi apresentada pela última vez em janeiro de 2021, mais de um ano antes do início da ofensiva russa na Ucrânia, de acordo com o Bolshoi.
"O espetáculo <i>Nureyev </i>foi retirado do catálogo devido à lei (…) sobre a propaganda de valores não tradicionais", explicou o diretor do teatro, Vladimir Urin, citado por seu serviço de imprensa.
No final de 2022, a Rússia endureceu sua legislação contra pessoas lésbicas, gays, bissexuais e trans (LGBT), adotada em 2013, proibindo a "propaganda LGBT" para menores e a "promoção de relações sexuais não tradicionais" em todos os meios – internet, livros, filmes e outras produções culturais.
Rudolf Nureyev, diretor do balé da Ópera Nacional de Paris de 1983 a 1989, marcou a história da dança com suas coreografias. Ele nunca escondeu sua homossexualidade.
Em julho de 2017, na estreia do balé no Bolshoi, a cena deveria ser dominada por uma foto do bailarino nu, mas a apresentação foi cancelada no último minuto, oficialmente porque os artistas não estavam suficientemente preparados.
A imprensa sugeriu que o cancelamento ocorreu devido às pressões do poder público, hostil à menção da homossexualidade do bailarino.
Por fim, o balé <i>Nureyev</i> estreou em 10 de dezembro de 2017, mas sem seu criador, Kirill Serebrennikov, que estava em prisão domiciliar em Moscou por acusações de desvio de fundos públicos, chamadas por ele de "absurdas". Hoje, Serebrennikov vive exilado no exterior.
Paralelamente à sua ofensiva na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, a Rússia, cada vez mais isolada do resto do mundo, tem empreendido uma "revolução cultural" conservadora desde o início dos anos 2000 para "defender valores tradicionais".