Em crise diante do surto do coronavírus, o governo de Jair Bolsonaro passou a ser alvo de "panelaços" nesta semana até em regiões que garantiram ao presidente 80% dos votos no 2º turno contra Fernando Haddad (PT) em 2018. Na quarta-feira, 18, os atos foram registrados em 22 capitais.
O jornal O Estado de S. Paulo cruzou dados de seu mapa hiperlocal dos resultados das eleições, lançado há dois anos, com as regiões onde foram registrados panelaços contra o presidente em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Na capital paulista, uma das regiões onde protestos foram ouvidos é o bairro do Morumbi, onde urnas chegaram a registrar 80,4% dos votos válidos para Bolsonaro na eleição. Moema (onde o então candidato do PSL levou 76,8% dos votos), Jardins (75,2%), Vila Romana (74,8%) e Santana (74,7%) também registraram atos.
"Boa parte de quem saiu a bater panela foi a mesma classe média que bateu panela contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT)", analisa o cientista político Marco Konopacki, pesquisador do Instituto de Tecnologia e Sociedade e da New York University. "Essa classe média é sensível à expectativa econômica. O somatório de um PIB pequeno, com o derretimento da Bolsa brasileira e o dólar batendo R$ 5,20 foi disruptivo para o voto de confiança que eles depositavam no governo até então."
No Rio, o cenário é parecido. Bolsonaro teve mais de 60% da preferência dos eleitores de bairros como Ipanema (67,3% contra 32,7% de Haddad) e Freguesia de Jacarepaguá (61,6%), e foi alvo de protestos.
Bairros onde as urnas registraram vitória mais apertada para Bolsonaro também aparecem na lista dos locais em que moradores fizeram barulho contra o presidente. É o caso de Butantã, em São Paulo, onde algumas zonas eleitorais registraram vitória de Bolsonaro com 50,4% dos votos, e Santa Cecília (57,2%). No Rio, foi assim em Grajaú (52,9%) e Jardim Botânico (54,7%).
Santo Amaro, em São Paulo, e Laranjeiras, no Rio, são bairros que registraram atos contra Bolsonaro, mas que em 2018 algumas zonas mostraram vitória do candidato petista.
Para cientistas políticos ouvidos pelo Estado, os panelaços são sinal de que o presidente Jair Bolsonaro enfraqueceu sua própria narrativa e que adversários já aproveitam a crise para se manifestar. Após o domingo, 15, em que atos pró-governo aconteceram nas ruas do País, grupos contrários a Bolsonaro convocaram os panelaços pelas redes sociais.
Na quarta-feira, durante entrevista coletiva em Brasília, Bolsonaro disse que panelaços são um movimento "espontâneo" e uma "expressão da democracia".