Exatos dois anos após inflamar apoiadores contra o Judiciário em um ato que pedia a volta da ditadura, o presidente Jair Bolsonaro participa, nesta terça-feira, 19, de uma cerimônia formal em comemoração ao Dia do Exército, em Brasília. O evento, que sinaliza o apaziguamento entre os Poderes, contará com a presença do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, e terá a condecoração de ministros com a Ordem do Mérito Militar.
A participação de Bolsonaro na cerimônia indica, a princípio, mudança de tom no discurso do presidente. Em 19 de abril de 2020, o chefe do Executivo discursou para uma multidão de apoiadores que levantavam faixas pedindo, entre outras coisas, o fechamento do Congresso e do Judiciário e a volta do AI-5, o ato mais repressivo da ditadura militar.
Naquela ocasião, o presidente pregou o "fim da patifaria" e afirmou, exaltado, que não queria "negociar nada" com os outros Poderes. Bolsonaro não se opôs aos cartazes pedindo que as Forças Armadas ocupassem as ruas e que o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia, fosse deposto. Em vez disso, incentivou os apoiadores. Disse: "queremos ação pelo Brasil! Chega da velha política! (…) Acabou a época da patifaria. Agora é o povo no poder. Vocês têm a obrigação de lutar pelo País de vocês".
A pandemia de covid-19 havia começado havia algumas semanas no Brasil. Ignorando recomendações sanitárias, o presidente estimulou aglomeração e não usou máscara durante o ato. Enquanto discursava em cima de uma caminhonete, ele chegou a tossir algumas vezes.
À época, o <b>Estadão</b> apurou que a atitude do presidente foi desaprovada nas Forças Armadas. Aquela, porém, não foi a última vez que Bolsonaro testou os limites contra os outros Poderes, sobretudo o Judiciário. No 7 de Setembro de 2021, o chefe do Executivo fez o mais inflamado de seus discursos contra o Supremo, estimulou a desobediência a determinações da Corte e ameaçou "demitir" o ministro Alexandre de Moraes.
Dias depois, o mandatário apresentou ao País uma carta que, redigida com a ajuda do ex-presidente Michel Temer, ajudou a acalmar os ânimos entre o Planalto e o STF. Desde então, o presidente continuou dando declarações contra os ministros da Corte Suprema de forma esporádica, mas a tensão não voltou a subir como nos meses anteriores.