No mesmo dia em que seu ajudante de ordens, o coronel Mauro Cid permaneceu em silêncio ao depor na Polícia Federal, o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), tentou se desvencilhar de irregularidades que o oficial possa ter cometido no caso dos cartões fraudados de vacinação. Bolsonaro disse "esperar" que Cid não tenha feito nada de errado.
"Não tenho conversado com ele (Cid). Vi que ele ficou em silêncio. Isso é ele com o advogado dele. Foi um excelente oficial do Exército brasileiro, é jovem ainda. Ele fez o melhor de si. Peço a Deus que não tenha errado", disse.
Cid foi ajudante de ordens de Bolsonaro enquanto ainda atuava no Palácio do Planalto e foi convocado a prestar esclarecimentos à PF no inquérito que apura se houve adulteração de carteiras de vacinação da covid-19. O militar está preso preventivamente na Operação Venire, que tornou o caso público, no início de maio.
A polícia investiga inserções falsas sobre o cartão da vacina para burlar restrições sanitárias impostas pelo Brasil e pelos Estados Unidos em meio à pandemia. Bolsonaro se defendeu da hipótese. "Não tinha exigência para eu entrar nos EUA estar vacinado, meu Deus do céu", disse.
O ex-presidente, que veio ao Senado visitar o filho, Flávio Bolsonaro (PL-RJ), ainda falou sobre as compras de Michelle em dinheiro vivo e sobre o caso das joias. "As compras dela é absorvente, uma comprinha pra filha, manicure, cabeleireiro. Eu sacava em média 20 mil por mês, outras coisas que pagava da minha conta pessoal. Eu nunca usei o cartão corporativo meu", afirmou.
Bolsonaro nega que as joias que ganhou de presente da Arábia Saudita – caso revelado pelo <b>Estadão</b> – tenham passado tanto ele como por sua esposa e nivelou o valor delas por baixo. "Ela nunca viu as joias. O que eu já tive de conhecimento, quando é uma joia para se vender no mercado específica de uma nação, o preço vai estar lá embaixo. Vai estar abaixo de R$ 2 milhões. É bastante valor? É. Mas está longe de R$ 16 milhões", disse.
Articulado com o Congresso, o deputado relativizou o apoio dado por 29 deputados ao voto de urgência ao arcabouço fiscal. "O PL é um partido grande. A gente não vai fazer uma oposição radical", amenizou. Ele ainda mantém diálogos sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST, onde a oposição deve centrar a artilharia contra o governo, ao menos enquanto a CPMI do 8 de Janeiro ainda não inicia.
"O que eu tenho falado para parlamentares que devem compor é para fazer um trabalho sério. Ninguém chegar lá para lacrar, querer aparecer. É para ficar lá para buscar alternativas", afirmou Bolsonaro.
Com muitos deputados novatos, há uma sensação entre uma ala da oposição ao governo que os embates com os ministros em audiências no Senado estão tendo um efeito reverso e que alguns parlamentares, por irem despreparados, estariam passado vergonha.
A entrevista dada a jornalistas acabou após uma pessoa gritar "fora, Bolsonaro". Uma transeunte ainda rebateu com um "mito", termo usado para se referir ao ex-presidente.