O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira que o Brasil vai sediar a Copa América, torneio de futebol marcado para começar no dia 13 deste mês. O País foi a terceira opção dos organizadores, após Colômbia e Argentina desistirem de receber o evento.
"Se depender de mim e de todos os ministros, inclusive o da Saúde Marcelo Queiroga, está acertado, haverá. O protocolo é o mesmo da Libertadores, o mesmo do Sul-Americano, campeonatos internacionais de futebol, a mesma coisa", declarou Bolsonaro a apoiadores na entrada do Palácio da Alvorada, em Brasília.
O presidente criticou a cobertura da imprensa sobre a transferência do torneio pelo fato de o evento internacional representar um estímulo a aglomerações em um momento grave da crise do novo coronavírus, que já matou mais de 450 mil pessoas no Brasil.
"O que está havendo aqui? Movimento da Globo contrário porque os direitos de transmissão são do SBT. Não está havendo Libertadores? Não está havendo a Sul-Americana? Não começa agora na sexta-feira a Eliminatória da Copa do Mundo? Ninguém fala nada. Não tem problema nenhum", disse Bolsonaro.
O ministro das Comunicações, Fábio Faria, é genro do empresário e apresentador Silvio Santos, dono do SBT, empresa que tem os direitos de transmissão da Copa América.
Na segunda-feira, o ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, afirmou que a condição estabelecida pelo governo para o Brasil sediar a Copa América deste ano é de os jogos acontecerem sem torcidas e que todos os integrantes das delegações serem vacinados. Em entrevista no Palácio do Planalto, Ramos não havia dado como certo que o País vai receber a competição.
"Caso se realize a Copa América no Brasil, não haverá público. No momento são dez times. Já foi acordado com a CBF em reunião por videoconferência de no máximo 65 pessoas por delegação. Todos vacinados. Foi a condição que nós tratamos com a CBF", disse o ministro.
De acordo com o que disse Ramos, apesar de a própria Conmebol, entidade responsável pelo torneio de seleções, ter anunciado o Brasil como sede, isso ainda não está definido. "Não tem nada certo, quero pontuar de uma forma bem clara, estamos no meio do processo, mas não vamos nos furtar a uma demanda caso seja possível de atender", afirmou.
A transferência do evento para o País foi anunciada após Colômbia e Argentina desistirem. O Brasil foi escolhido com o argumento de possuir estádios em boas condições de uso, apesar de alguns estarem ociosos após a Copa do Mundo de 2014. A CBF se ofereceu.
O anúncio gerou críticas por acontecer em meio à pandemia de covid-19. Ao longo do dia, governadores passaram a rejeitar a possibilidade de receber jogos do torneio em seus Estados. Rio Grande do Sul, Pernambuco e Rio Grande do Norte já alegaram não ter condições de receber um evento desse porte. Nas redes sociais, o evento ganhou apelidos como "Corona Cup" e "Cepa América", além de memes críticos à competição.
Quando anunciou o Brasil como sede da Copa América, o presidente da Conmebol, o paraguaio Alejandro Dominguez, fez questão de agradecer Bolsonaro nominalmente. "Quero agradecer muito especialmente ao presidente Jair Bolsonaro e a seu gabinete por receber o torneio de seleções mais antigo do mundo. Igualmente meus agradecimentos vão para o presidente da CBF, Rogério Caboclo, por sua colaboração", disse o dirigente máximo da Conmebol nas redes sociais.
O vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apresentou um requerimento para que o colegiado convoque o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, para explicar sobre a realização do evento. A iniciativa é apoiada pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, que afirmou ao <b>Estadão</b> que vai se esforçar para que seja aprovado.
A Argentina abriu mão do torneio depois de a Conmebol não aceitar as exigências feitas pelas autoridades sanitárias, que inclusive eram muito parecidas com as feitas pelo Brasil. Entre as reivindicações do governo argentino estava a redução do número de integrantes das delegações. As 10 seleções participantes do torneio levariam entre 1 mil e 1,2 mil pessoas ao país vizinho. Também foi pedido que as delegações vacinassem seus membros com ao menos uma dose, além da adoção de rígidos protocolos em meio a um aumento de casos de covid-19 no país.
Antes, a possibilidade de a Colômbia receber os jogos foi descartada após o acirramento dos protestos contra o governo local.